O governo federal assinou nesta quinta-feira uma Medida Provisória que altera os direitos de transmissão dos jogos de futebol no Brasil. O texto dá mais autonomia aos clubes, mas divide opiniões sobre sua eficácia.

Especialistas temem que o novo modelo possa desequilibrar ainda mais a receita entre os clubes, com os times de maior torcida aumentando o abismo financeiro sobre os menores. Com a nova MP, os clubes passam a ter o direito de arena nos jogos como mandantes, ou seja, poderão negociar a transmissão sem o aval do visitante.

“Acho que fundamentalmente é positiva a mudança porque você dá mais poder aos clubes, existem mais alternativas na mão dos clubes, eles ficam com mais poder para negociar, tanto com a própria dona dos direitos atualmente, quanto com as novas plataformas de streaming que estão cada vez mais testando o mercado do futebol”, contou à Gazeta Esportiva Fernando Ferreira, economista e fundador da Pluri Consultoria.

“Eles podem negociar individualmente, mas também podem fazer parcerias, aí acho que as parcerias passam a ser um negócio mais interessante, com a possibilidade de você fazer a venda em conjunto. Ao mesmo tempo, os clubes brasileiros não tem uma tradição de sentar na mesa para conseguir trabalhar juntos”, seguiu.

“(Se não discutirem junto), isso pode levar ao maior desequilibro das cotas, porque eventualmente o Flamengo, por exemplo, pode negociar um baita contrato com uma empresa e a empresa só querer o Flamengo e não os demais, ou pagar valores diferentes pelos jogos”, argumentou.

Já o economista e analista financeiro Cesar Graffieti enxerga com bastante preocupação a mudança e acredita que pode levar a uma “mexicanização” do futebol brasileiro.

“No passado se falava em ‘espanholização’, que era a ideia de que dois clubes seriam beneficiados em função de receber mais da TV. Na Espanha isso caiu com a lei que determinou os contratos coletivos de direitos. No México o modelo adotado é justamente o que dá o direito ao mandante de vender seus jogos. Trata-se de um bom campeonato mas que ninguém vê e que os clubes recebem bem menos do que poderiam. Por isso chamei de ‘mexicanização’”, contou.

“O ideial seria migrarmos para um modelo coletivo, pois inclusive o atual não é bom, uma vez que determina certo desequilíbrio em relação ao pay-per-view”, seguiu.

“O precedente nesse momento é o de uma corrida às análises contratuais para procurar brechas que permitam vendas de direitos além das atuais. No curto prazo permitirá ao Flamengo transmitir os jogos do Campeonato Carioca e aos clubes que estão discutindo o contrato de TV fechada com a Turner eventualmente aceitar a rescisão e buscar uma solução diferente”, analisou.

A MP entra em vigor na data de sua publicação, esta quinta-feira, e tem 60 dias para ser aprovada no Congresso Nacional. O período ainda pode ser estendido por mais 60 dias. Caso não haja aprovação, o texto antigo volta a valer.