O Mundial Paralímpico de Natação começa nesta segunda-feira em Londres, na Inglaterra, e será a primeira competição que o Brasil sentirá de fato os efeitos do novo sistema de classificação funcional. As alterações devem influenciar diretamente nos resultados, por exemplo, do principal medalhista do País, Daniel Dias, que corre o risco de voltar sem nenhuma medalha de ouro na bagagem.
O brasileiro vem de uma vitoriosa participação nos Jogos Parapan-Americanos de Lima. Ele conquistou seis ouros e manteve a sua invencibilidade em Parapans somando um total de 33 medalhas douradas. Na competição continental, no entanto, nenhum adversário de uma classe acima da sua havia entrado para a S5, a que ele disputa.
Na piscina da capital inglesa, Daniel Dias terá pela frente dois italianos e um chinês que devem complicar e muito as possibilidades de pódio. Os três eram atletas que brigavam por medalhas na S6 e foram rebaixados para a categoria do brasileiro. Seu currículo de 24 medalhas de ouro e seis de prata no Mundial não deve crescer tanto por causa disso.
Desde que os atletas da categoria de cima “reforçaram” a S5, cinco recordes mundiais de Daniel foram batidos. O chinês Lichao Wang agora é dono das melhores marcas nos 50 metros costas e 50 metros borboleta. O italiano Antonio Fantin superou o brasileiro nos 50 metros livre e 100 metros livre. E o também italiano Francesco Bocciardo roubou o melhor tempo nos 200 metros livre.
“É injusto o que está acontecendo. Me sinto prejudicado competindo com atletas que não são novos no Movimento Paralímpico, pelo contrário são campeões da classe S6”, desabafou Daniel Dias em entrevista para o Estado. “A mudança era necessária, mas não da maneira que está sendo implementada. Esperamos que os órgãos responsáveis deixem as coisas mais justas e claras”, continuou.
Em Londres, Daniel Dias competirá em quatro provas: 50 metros costas, 50 metros livre, 100 metros livre e 50 metros borboleta. Apesar de ter de nadar com atletas que possuem maior mobilidade, o brasileiro mantém o otimismo. “A expectativa é boa. É sempre uma alegria poder representar o nosso País em uma competição internacional, ainda mais em um Mundial. Treinamos muito para chegar aqui e dar o nosso melhor”, avisou.
As reclassificações foram motivo de divergência entre o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, e do mandatário do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), o também brasileiro Andrew Parsons. O primeiro disse que faltaram critérios para fazer as mudanças e tenta o cancelamento das classificações na Justiça da Alemanha. O outro afirma que desde o final de 2017 estão sendo utilizados critérios científicos. “Esperamos que haja uma mudança sim e que as coisas fiquem mais claras até Tóquio”, disse Daniel Dias.
O Mundial de natação ocorrerá entre esta segunda-feira e o próximo domingo no Parque Olímpico Rainha Elizabeth, mesmo local onde foi realizada a Paralimpíada de Londres-2012. No total, 24 brasileiros que estiveram em Lima também buscarão medalha no país europeu. Na capital peruana, os brasileiros da natação conquistaram 127 medalhas – sendo 53 ouros, 45 pratas e 29 bronzes. A principal ausência será André Brasil, que foi considerado inelegível para o esporte paralímpico nessa mesma reclassificação.
Além de Daniel Dias, vale ficar de olho também em Phelipe Rodrigues, que conquistou sete ouros e um bronze no Parapan, Estefany Rodrigues, que bateu o recorde parapan-americano dos 200 metros medley, além de garantir duas pratas e um bronze em Lima, e na veterana Edênia Garcia, que vai em busca do pentacampeonato mundial nos 50 metros costas.