Cátia, Maria Carol, Tuany, Alana e Suzana são atletas paralímpicas. Além de participarem do Parapan de Lima, no Peru, todas têm em comum no passado a participação em modalidades olímpicas. O Estado conversou com as cinco atletas para entender como foi essa transição, o impacto que teve na vida delas e o que acharam de participar da competição na capital peruana, que tem cerimônia de encerramento marcada para este domingo, às 20h30 (de Brasília).
Duas delas viram essa transição acontecer de maneira abrupta, vítimas de acidentes. Cátia Oliveira era jogadora de futebol e em outubro de 2007, no dia em que foi convocada pela primeira vez para defender a seleção brasileira, sofreu um acidente de carro. Ela dormia no banco traseiro sem cinto de segurança e, com o impacto da batida, teve lesão medular cervical e ficou tetraplégica. “Foi bem difícil. Sofri o acidente às 11 horas e às 17 horas saiu a convocação com meu nome na seleção. Foi bem difícil encarar isso tudo e fazer a reabilitação. No começo, só conseguia mexer o olho. Mas agora estou bem melhor”, disse.
A recuperação veio com o auxílio do tênis de mesa, apresentado por uma amiga no ano seguinte ao acidente. A estreia em Parapan aconteceu em Toronto-2015, no Canadá, com medalha de ouro no individual. Em Lima, ela conquistou o bronze.
TUANY SIQUEIRA
Do judô para o atletismo: “Tive que aprender a usar vários músculos que não conhecia”
Com Tuany Siqueira a lesão aconteceu durante um torneio. Em 2014, ela era judoca, tinha 21 anos, e entrou no tatame para enfrentar a bicampeã olímpica, a cubana Idalys Ortiz na final do GP Interclubes. Na parte final da luta, a brasileira caiu e deslocou o joelho. Tuany rompeu todos os ligamentos do joelho, chegou a desmaiar de dor, enfrentou diversas cirurgias durante dois anos e meio e teve a mobilidade da perna direita comprometida. Em Lima, ela conquistou duas pratas, uma no arremesso de peso e outra no lançamento de disco.
“Foi experiência diferente. Minha primeira competição internacional aqui em Lima. É uma vida nova. Tive que aprender a usar mais tronco e braço, usar vários músculos que não conhecia”, disse. O problema sofrido ainda impacta em sua vida. “Tenho lesão no nervo. Aqui (em Lima) estou sofrendo bastante por causa do frio”, prosseguiu. Tuany ainda mantém contato com a turma do judô e durante as competições em Lima mantinha contato com Alana Maldonado.
ALANA MALDONADO
Do judô para o judô: “Espero que em breve o paralímpico tenha o mesmo peso do olímpico”
Assim como Tuany, Alana teve uma mexicana como principal oponente em Lima e também ficou com a medalha de prata. A judoca pratica a modalidade desde os quatro anos. Quanto tinha 14 descobriu um problema congênito que praticamente tirou sua visão. A mudança foi de uma hora para outra. Alana conta que quando percebeu já estava inserida no esporte paralímpico. Hoje, com 24 anos, acha que houve grande evolução no esporte de alto rendimento para deficientes, mas há ainda um caminho a ser percorrido para ficar de igual para igual com o olímpico.
“Há sim grande diferença, embora o paralímpico tenha crescido muito e conquistado grande espaço na mídia, mas acho que na visão da população um atleta olímpico ainda tem mais visibilidade. Estamos crescendo muito nesse sentido e espero em breve ter o mesmo peso de atleta olímpico”, afirmou.
MARIA CAROLINA
Da natação para natação: “As dificuldades que tinha foram supridas quando mudei”
Maria Carol tem problema semelhante ao de Alana e possui baixa visão. A transição da natação olímpica para a paralímpica foi muita tranquila, segundo ela. “As dificuldades que tinha foram supridas quando mudei. O meu posicionamento de cabeça, a minha virada melhoraram. A estreia em Parapan não poderia ter sido melhor. Ela nadou quatro provas, conquistou quatro ouros e bateu quatro recordes parapan-americanos. “Sensação melhor possível. Fiquei tão feliz, tão emocionada de nadar as provas com tanta gente assistindo, minha família estava vendo. Foi muito grande a emoção de chegar, conquistar e ainda bater recordes parapan-americanos”, comentou.
SUSANA RIBEIRO
Do triatlo para natação: “Me deram dois anos de vida. Estou com 14 anos de doença. Devo tudo ao esporte”
Susana era triatleta antes de vir para o paralímpico. Chegou a disputar o Pan de 1995 de Mar Del Plata, se sagrou pentacampeã brasileira, além de completar 13 provas de Ironman. A mudança na carreira aconteceu por causa da doença MSA (múltipla falência dos sistemas), que afeta a mobilidade. “Tive sorte porque na academia que treinava no Rio uma parte da seleção brasileira paralímpica de natação estava lá treinando”.
Bronze no Parapan de Guadalajara-2011 e prata no revezamento 4×50 metros livre no Rio-2016, aos 51 anos veio para Lima e participou de cinco provas na classe S4. Esteve próxima da medalha nos 200 metros livre, mas terminou em quarto lugar. Ela destacou a evolução do esporte paralímpico e a estrutura oferecida no Brasil.
“O Centro de Treinamento em São Paulo é a nossa Disneylândia. Está organizado e tem condições para treinar e dar o melhor nas provas”, disse. Estar no esporte, para ela, é questão de sobrevivência. “Me deram dois anos de vida quando descobri o que tinha. Estou com 14 anos de doença. A natação me deu sobrevida. Toda a minha dedicação que dei ao esporte, o esporte me devolveu mil vezes mais”, finalizou.