Quem está acostumado a ver Valéria Kumizaki paramentada com os equipamentos de luta e proteção de caratê nem desconfia que o sonho da vice-campeã mundial de 2016, até a sua adolescência, era de ser freira. A sua mãe até chegou a procurar um convento para atender o desejo da filha, mas a distância da família mudou os planos da carateca, que já vivenciou uma experiência inusitada envolvendo seu desejo de entrar para uma ordem religiosa.

“Quando fui ao Vaticano pela primeira vez, uma freira veio em minha direção, me deu um cartão do convento delas e disse: ‘Deus pediu pra te entregar isso, e a hora que você quiser você pode se juntar a nós.’ Eu chorei muito e tenho o cartão guardado até hoje”, relembrou a atleta, que estava participando de uma competição na época.“Neste momento, estou vivendo minha vida focada no caratê, mas a gente não sabe o dia de amanhã. Isso (ser freira) é uma vocação, é um chamado de Deus, sempre digo que não sou eu quem tenho de decidir. Já ouvi falar que a gente sente uma coisa muito forte quando ouve esse chamado”, completou.

A mensagem da freira no postal para a carateca

Nascida em família católica praticante, devota de Nossa Senhora Aparecida como a mãe e a avó materna, dona Jesulinda, batizada e crismada, desde criança Valéria gosta de ir à missa aos domingos, hábito que exercita sempre que possível, mesmo estando fora do país, assim como o costume de pedir benção a um padre ou uma freira que cruze seu caminho. “A primeira coisa que faço quando chego em uma cidade é procurar uma igreja. Essa comunhão com Deus é muito forte para mim”, disse.

“Não uso nada para me dar sorte, mas rezo sempre. Agradeço no começo do dia, depois do treino e antes de dormir. Cresci assim. Minha mãe nunca nos obrigou a nada, mas colocou esses valores na nossa casa: pedir benção para a avó, pai e mãe antes de dormir e toda noite rezávamos o Santo Ângelo ao Senhor”, relembrou.

Integrante do Time Ajinomoto, Valéria treina para conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos que serão realizados em Tóquio, em 2021. Dona de quatro medalhas em Jogos Pan-Americanos na categoria até 55kg, sendo duas de ouro (2019 e 2015), uma de prata (2007) e uma de bronze (2011), ela vai disputar o Pré-Olímpico de Paris no próximo ano em busca da classificação.

Com o adiamento da Olimpíadas devido à pandemia do novo coronavírus, os atletas tiveram de reorganizar sua preparação. Como sempre, a fé ajudou a carateca a se fortalecer nessa situação. “Tudo na vida tem um propósito. Eu vi o adiamento dos Jogos como uma oportunidade de treinar mais, me preparar melhor. Vou disputar um torneio classificatório, estou treinando forte, focada e a fé me faz ver isso: acreditar em uma coisa que a gente tem lá na frente e dar força para conquistar o que queremos na vida”.