Ilha do Marajó: seis meses depois, como estão as crianças do Pará?
Durante viralização dos abusos que acontecem na Ilha do Marajó, promessas foram feitas para ajudar o local; veja o que foi realizado
Em 16 de fevereiro de 2024, a cantora gospel Aymeê Rocha apresentou uma canção denunciando sobre casos de exploração infantil na Ilha do Marajó, no Pará.
A música “Evangelho de Fariseus” retomou as discussões, trazidas à tona anteriormente nos anos 2000, com acusações na Câmara dos Deputados, e posteriormente na década de 2010, com reportagens sobre o assunto, e até mesmo em 2022, com falas da então ministra Damares Alves. Contudo, seis meses após a música de Aymeê, o assunto voltou a se esconder dos holofotes.
Diante das denúncias recentes, ainda no mês de fevereiro, o pastor Téo Hayashi publicou um vídeo nas redes sociais falando sobre a Ilha do Marajó, afirmando que sua igreja realizava missões evangelísticas e atos de caridade na região. De acordo com a descrição das redes sociais do Instituto Akachi, organização sem fins lucrativos responsável pelas ações, o grupo transforma regiões em vulnerabilidade social não só na Ilha do Marajó, mas também no Vale do Ribeira.
A última publicação feita sobre a região nas redes sociais do Instituto Akachi foi no último dia 12. O vídeo mostra cenas, supostamente da Ilha do Marajó, com a frase “Marajó: para muitos, um lugar esquecido; para nós, um lugar de restauração”. Na legenda, o instituto relata encontrar “esperança e uma visão celestial” para o arquipélago.
Anteriormente, o Instituto Akachi publicou uma nota explicando o motivo de realizarem ações no Marajó. De acordo com o post, o local possui o pior IDH do Brasil, juntamente com indicações de que 5 crianças são abusadas por dia no Pará, com maior incidência no Marajó. O texto relata que a fonte dessa afirmação são “estudos”, mas não especifica quais. “Há 391 processos anuais de crimes contra crianças e adolescentes, principalmente violência de vulnerabilidade, números que podem ser maiores devido à subnotificação”, publicaram.
Comissão de Direitos Humanos prometeu viagem à Ilha do Marajó
Além disso, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) prometeu, no dia 23 de abril, viajar à cidade de Melgaço, no Pará, para apurar sobre o caso. A viagem deveria acontecer no mês seguinte.
Na ocasião, o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA) apontou a elevada taxa de casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes no local. “Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o Pará possui uma taxa de 3.648 casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes, acima da média nacional de 2.449 casos no que se refere a crimes dessa natureza”, afirmou o senador. “Em 2022, foram registrados 550 casos de crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes no arquipélago do Marajó. Desses, 407 foram estupros de vulnerável.”
Questionado pelo portal RIC, o senador Zequinha Marinho afirmou que o relatório da diligência externa feita na cidade de Melgaço foi apresentado à CDH no mês de julho, logo após a viagem. “Durante a diligência, pudemos ouvir familiares de vítimas, representantes de instituições voltadas para a defesa da criança e do adolescente e autoridades locais. Esse problema no Marajó é gravíssimo”, relatou.
Além disso, Marinho afirmou que entregou o relatório sobre a viagem diretamente ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida. “Fui informado por ele que o governo lançará uma política nacional para atuar contra esse tipo de crime no país. Desde então, estamos acompanhando de perto e vamos solicitar que a ação se inicie pelo Marajó ou que priorize a região”, relatou. O Portal RIC procurou o ministro sobre o tema através da assessoria do ministério, mas não obteve resposta.
Por fim, Zequinha Marinho afirmou que há um projeto de lei (PL) que busca ajudar a Ilha do Marajó. “Além dessa ação, tramita no Senado Federal um projeto de minha autoria, o PL 425/24, que aumenta a pena para os criminosos envolvidos com o crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança, adolescente ou vulnerável”, concluiu.
O então presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), afirmou no mês de abril que nomearia os senadores que visitaram a Ilha do Marajó. Entretanto, a assessoria do senador afirmou que Paim não está mais envolvido no assunto, em grande parte por conta das tragédias que aconteceram no Rio Grande do Sul também no mês de abril.
Superintendente da PRF assinou projeto para ajudar a Ilha do Marajó
Por fim, em 20 de maio de 2024, o superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Haroldo Teixeira, esteve em Ponta de Pedras (PA), em um evento em comemoração ao Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Na ocasião, Teixeira assinou um acordo para a implementação do Projeto Mapear. A princípio, o projeto busca identificar, a cada dois anos, pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais.
Na ocasião, Haroldo Teixeira afirmou que a PRF tinha grandes expectativas sobre os resultados do projeto na Ilha do Marajó. “Desde 2003 a Polícia Rodoviária Federal já executa essa metodologia ao longo das rodovias federais. Temos obtido grandes resultados através de políticas públicas e inteligência nas ações de combate, prevenção e repressão”, discursou. O Portal RIC também buscou contato com o superintendente, mas não obteve resposta.
Além disso, o ministro Silvio Almeida também esteve no evento onde o projeto foi assinado.
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