Rússia toma maior usina nuclear na Ucrânia e causa temor

Publicado em 4 mar 2022, às 16h44. Atualizado às 18h37.

LVIV/KIEV (Reuters) – Forças russas na Ucrânia tomaram a maior usina nuclear da Europa, nesta sexta-feira (4), em um ataque que alarmou o restante do mundo e que os EUA afirmam ter representado o risco de uma catástrofe, embora autoridades tenham dito posteriormente que a instalação agora está segura.

As lutas também continuaram em outros locais da Ucrânia, com as forças russas sitiando e bombardeando várias cidades na segunda semana de uma invasão iniciada pelo presidente Vladimir Putin.

A capital Kiev, no caminho de uma coluna blindada da Rússia que está parada em uma estrada há dias, foi alvo de novos ataques, com explosões podendo ser ouvidas do centro da cidade.

A cidade portuária no sudeste, Mariupol, –alvo chave para as tropas russas– foi cercada e bombardeada. Seu prefeito disse que não havia água, aquecimento ou energia elétrica e que a cidade estava ficando sem comida após cinco dias sob ataque.

“Estamos simplesmente sendo destruídos”, disse o prefeito Vadym Boychenko.

No entanto, aliados da Otan rejeitaram nesta sexta-feira o apelo da Ucrânia por uma zona de restrição de voo, dizendo que estavam intensificando apoio, mas que participar diretamente levaria a uma guerra europeia ainda mais brutal e ampla.

Um desastre humanitário também está em andamento, com mais de um milhão de pessoas buscando refúgio no oeste da Ucrânia e em países vizinhos. Acredita-se que milhares de pessoas foram mortas ou ficaram feridas desde o começo da invasão, em 24 de fevereiro.

O ataque à usina nuclear de Zaporizhzhia levou o conflito a um momento perigoso. À medida em que as bombas atingiam a área, fogo irrompeu em um prédio de treinamento, gerando um espasmo de alarme ao redor do mundo antes de o incêndio ser extinto e autoridades dizerem que a instalação estava segura.

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que o mundo evitou por pouco uma catástrofe nuclear.

Uma autoridade da Energoatom, operadora estatal de usinas nucleares da Ucrânia, disse à Reuters que os combates haviam cessado e que os níveis de radiação estavam normais. Mas a organização não tem mais contato com os administradores da usina ou controle sobre o seu material nuclear, disse.

O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Raphael Grossi, disse que a usina não havia sido danificada pelo que eles acreditavam ter sido um projétil russo. Apenas um dos seis reatores estava funcionado, com cerca de 60% de capacidade.

O Ministério da Defesa da Rússia também disse que a planta estava funcionando normalmente. Ele atribuiu o incêndio a um ataque de sabotadores ucranianos e disse que suas forças estavam no controle.

O governo russo nega estar tentando atingir civis e diz que seu objetivo é desarmar o país vizinho, reagir ao que vê como uma agressão da Otan e capturar líderes que considera neonazistas. A Ucrânia e seus aliados ocidentais classificam isso como um pretexto sem fundamento para uma guerra que visa conquistar um país com 44 milhões de pessoas.

Repressão

Na Rússia, onde os principais adversários de Putin têm sido presos ou exilados, a guerra levou a uma repressão ainda maior contra a dissidência. Autoridades proibiram notícias que se referem ao que chama de “operação especial militar” como “guerra”. Manifestações contra a guerra foram reprimidas, com milhares de prisões.

Na sexta-feira, a Rússia fechou emissoras estrangeiras, incluindo a BBC e a Voz da América. As principais emissoras independentes da Rússia, TV Dozhd e a rádio Ekho Moskvy, foram fechadas na quinta-feira.

Também na sexta, a Rússia bloqueou o Facebook, em resposta ao que classificou como restrições ao acesso à mídia russa na plataforma. O Parlamento aprovou nesta sexta uma lei impondo prisão de até 15 anos pela disseminação intencional de notícias “falsas” sobre o Exército. A BBC disse que suspenderia temporariamente o trabalho de todos os seus jornalistas e funcionários de apoio na Rússia após a introdução da lei.

(Reportagem de Pavel Polityuk, Natalia Zinets, Aleksandar Vasovic na Ucrânia, John Irish em Paris, François Murphy em Viena, David Ljunggren in Ottawa e outras redações da Reuters)