Programa inédito no Paraná traz humanização no atendimento a presos em Cascavel
Um programa inédito desenvolvido pelo Deppen (Departamento de Polícia Penal) do Paraná, coordenadoria Regional de Cascavel, traz esperança e humanização a presos que sofrem preconceito dentro do sistema penal, por conta da identidade de gênero.
Sandra, como será chamada a personagem para que sua identidade seja preservada, é a primeira presa transgênero do Paraná a fazer parte deste projeto. Ela passou mais de nove anos na prisão tradicional. Mesmo já identificada como mulher do lado de fora das grades, quando chegou à cadeia teve o cabelo raspado. Foi vestida e inserida como homem na penitenciária. O resultado: preconceito e várias tentativas de abuso dos colegas de prisão.
“ Ser uma mulher trans hoje no mundo já não é fácil. Imagina ser uma mulher trans cumprindo pena em um presídio masculino, tendo que raspar a cabeça, usar roupa íntima masculina, que até então, eu não usava. Pra mim, eu tive que me fantasiar de homem.”
Sandra
Depois, ela foi colocada em cela feminina, mas o cenário não mudou muito. Foi aí que a coordenadoria regional em Cascavel percebeu a necessidade de colocar à disposição a sede da unidade para atendimento a esses detentos, que sofrem preconceito pela identidade de gênero.
“Aqui ela pode assumir sua identidade, que é a feminina. Ela poderá deixar o cabelo crescer, fazer a manutenção em sua sobrancelha, é dar a ela uma harmonização no cumprimento da pena. O cumprimento da pena dela é como a dos demais presos. A única diferença é que ela está em um ambiente, que em tese seria masculino, porém em uma cela separada. Não estamos inventando uma forma diferente de tratamento penal, o que aconteceu é que ela é o primeiro caso, e nós também aprendemos com isso.”
Thiago Correia – Diretor regional do Deppen PR
Hoje, Sandra tem uma vida totalmente diferente. Ela estuda e é responsável pela cozinha da unidade. Além disso, começou uma faculdade à distância, que era um dos seus grandes sonhos.
“Foi uma oportunidade que eu nunca imaginei que eu teria. Eu continuo pagando minha dívida com a sociedade. Hoje eu trabalho, estudo, faço algo de útil no tempo que estou aqui.”
Sandra
Carlos, que também terá seu nome preservado, é outro detento que participa do programa. O preso é uma mulher homossexual que gosta de ser tratada no gênero masculino. A responsabilidade de Carlos é cuidar dos cães da unidade.
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O preso está no fim do cumprimento da pena e vai sair da prisão nos próximos dias. Assim como ele, Sandra também vê um futuro diferente quando sair da prisão.
“Minha vida está ganhando um rumo. Mesmo estando aqui, eu tenho esperança, tenho sonhos que hoje eu já consigo planejar .”
Sandra
Eu quero buscar novos ares, nova vida. Essa experiência foi única e eu não quero outra.
Carlos
Como funciona o projeto
O projeto, inédito no Estado e que já atendeu oito presos, hoje tem quatro detentos cumprindo pena na Unidade de Progressão Avançada. A ideia de construir um local específico para dar essa assistência aos apenados ainda está no papel. Enquanto a obra não sai, os presos fazem a progressão na sede da Coordenadoria Regional do Deppen.
De acordo com o diretor regional Thiago Correia, os detentos atendidos nessa unidade têm suas obrigações diárias. Horários para serem cumpridos e trabalham com a manutenção e o cuidado da sede, em uma relação de confiança. Além disso, no local funcionam outros trabalhos desenvolvidos com ONGs da cidade, onde os apenados fazem curso e aprendem a desenvolver uma profissão. A intenção é que, futuramente, a unidade possa atender a 28 presos.
“No caso da Sandra especificamente, eu não falo que é ressocialização, mas sim em socialização. Do tempo que ela está aprisionada, esta é a primeira vez que ela pode ser tratada com ela é, como mulher que é.”
Thiago Correia – Diretor regional do Deppen PR
O trabalho, até agora, tem 100% de aproveitamento: dos presos que participaram desse projeto, nenhum deles voltou ao mundo do crime.