Por que aviões não são fabricados com materiais da caixa-preta? Especialista explica
Essa pergunta causou dúvida entre os usuários após a queda do avião da companhia aérea VoePass, no Interior de São Paulo. No entanto, será que é possível? Confira abaixo!
A queda do avião da companhia aérea VoePass, em Vinhedo (SP), causou dúvidas entre os usuários. Uma delas, é por que os aviões não são fabricados com os mesmos materiais da caixa-preta (dispositivo que fornece informações para ajudar a determinar as causas de acidentes).
A caixa-preta do avião, que caiu em Vinhedo, chegou em Brasília no último sábado (10) e já está sendo analisada por equipes do Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (LABDATA), do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).
Em entrevista ao portal RIC.com.br, Mauricio Lorenzzini, perito e professor do curso de graduação em Pilotagem Profissional de Aeronaves, na Universidade Tuiuti do Paraná, esclareceu sobre a escolha dos materiais na fabricação das caixas-pretas e por que esses mesmos não são utilizados na construção das aeronaves.
Segundo Maurício, a caixa-preta é composta por dois dispositivos de gravação: o Flight Data Recorder (FDR), que registra uma ampla gama de dados técnicos de voo e o Cockpit Voice Recorder (CVR), que captura as comunicações na cabine. Os dispositivos são projetados para resistir a situações extremas, como impactos violentos e altas temperaturas, o que demanda o uso de materiais altamente resistentes, como aço e titânio.
“A caixa-preta é feita para suportar condições que seriam catastróficas para a maioria dos materiais. Por isso, usamos componentes como o titânio, que são extremamente duráveis”, disse.
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De acordo com o professor, não é possível usar os mesmos materias na fabricação de aviões por se tratar de equipamentos pesados.
“O avião precisa de resistência estrutural, mas também precisa ser leve. Por isso, utilizamos materiais como alumínio e fibra de carbono, que são altamente resistentes e, ao mesmo tempo, leves. Construir um avião com materiais pesados, como o titânio, tornaria a aeronave inviável operacionalmente. O peso adicional afetaria drasticamente a eficiência de voo e os custos de operação”, explicou.
Maurício destacou que a caixa-preta, embora robusta, é um dispositivo relativamente pequeno. Mesmo com toda resistência, ela pode sofrer danos significativos em um acidente, o que às vezes exige processos complexos de recuperação de dados.
“Dependendo do impacto, a caixa-preta pode ficar muito danificada. Temos tecnologia avançada no Brasil para recuperar esses dados, mas em alguns casos, as caixas-pretas são enviadas para laboratórios especializados nos Estados Unidos”, comentou.
O professor enfatizou a importância da engenharia aeronáutica em desenvolver soluções que equilibrem a resistência e a leveza das aeronaves, o que garante a segurança e a eficiência das operações aéreas.
“A engenharia aeronáutica segue padrões rigorosos na escolha de materiais para a construção de aeronaves. Esses materiais são selecionados para garantir que o avião seja aeronavegável, seguro e viável do ponto de vista operacional. A caixa-preta é uma exceção, projetada com um único objetivo: resistir a situações extremas para proteger dados críticos”, disse.
Onde a caixa-preta fica no avião?
O especialista também abordou a questão da localização das caixas-pretas nas aeronaves. Ele explicou que a cauda é o local escolhido na maioria das vezes por ser a parte que, historicamente, tende a permanecer mais intacta após um acidente.
“Se analisarmos fotos de acidentes aéreos, podemos observar que a cauda geralmente é a parte mais preservada em comparação ao restante do avião, que pode estar completamente destruído. Isso aumenta as chances de recuperação dos dados após um acidente”, afirmou.
Por que a caixa-preta é laranja?
Os registradores de voz de cabine e informações do voo já foram pretas conforme o nome. No entanto, após alguns acidentes, foi observado de que era mais fácil encontrar o equipamento entre os destroços se fosse de uma cor destacada.
Hoje, a caixa-preta é, na verdade, pintada de laranja vibrante, o que facilita a localização em caso de acidente.
“Ela é projetada para ser facilmente encontrada, tanto durante o dia quanto à noite. À noite, a caixa-preta tem faixas reflexivas que brilham quando uma luz é projetada sobre ela, similar ao funcionamento das placas de trânsito. Isso facilita a identificação, mesmo em condições de baixa visibilidade”, detalhou Mauricio.
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