Parolin Território em Guerra: Morte na véspera de Natal inicia guerra no bairro
Ao todo serão exibidas quatro reportagens que irão contar como a disputa pelo poder no bairro se transformou em um conflito com diversas mortes
Mesmo distante a menos de 20 minutos da Prefeitura de Curitiba, o Parolin é um dos bairros mais pobres da capital paranaense. Nos últimos anos, uma guerra entre facções que disputam a soberania do tráfico de drogas no local tem aterrorizado moradores e desafiado a segurança pública.
Com base em apurações realizadas e documentos obtidos com exclusividade, a RICtv lançou nesta terça-feira (24) a série ‘Parolin Território em Guerra’. Ao todo serão exibidas quatro reportagens que irão contar como a disputa pelo poder no bairro se transformou em um conflito com diversas mortes.
Dados da Secretaria de Segurança Público do Paraná, com base no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pontam que cerca de 11,5 mil pessoas moram no bairro. A renda média dessas pessoas fica na casa dos R$ 300.
Essa situação de vulnerabilidade social facilitou o crescimento da criminalidade no Parolin. Hoje, três facções em guerra disputam o controle do tráfico de drogas no bairro:
- Morro do Sabão é a parte mais alta do Parolin e é comandado pela Turma de Cima. Essa facção é chefiada atualmente por Nenê, com os líderes sendo historicamente ligados à mesma família;
- Turma do Meio ocupa a faixa mais central do Parolin e é formada por dissidentes das facções de Cima e Baixo. Esse grupo busca o tráfico de drogas nas vielas e becos dessa região;
- Área CCD ou Cidade de Deus (em referência ao bairro do Rio de Janeiro) é comandada pela Turma de Baixo, facção ligada ao PCC, que faz dessa parte do Parolin uma das bases do grupo em Curitiba.
As facções contam com organização para fugir das autoridades. Olheiros desses grupos estão posicionados por todo o bairro, com o objetivo de evitar incursões das forças de segurança pública no local.
A comunicação dos olheiros com as lideranças das facções é feita rapidamente por meio de grupos no Whatsapp e também por ligações pela plataforma.
Mas a relação entre as facções se tornou mais tensa desde o dia 24 de dezembro de 2019, quando um assassinato no Parolin iniciou uma guerra no local.
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Jessica e o golpe no Morro do Sabão
Segundo o depoimento de um investigador da Polícia Civil do Paraná (PCPR), obtida com exclusividade pela RICtv, na véspera do Natal de 2019, Jessica, filha de Nenê, comemorava o feriado com conhecidos no Morro do Sabão.
Jessica teria iniciado disparos com uma arma de fogo na direção da região da Turma do Meio do Parolin. Houve então troca de tiros e a mulher foi baleada na cabeça.
Segundo laudos médicos obtidos pela RICtv, Jessica ficou com sequelas graves: déficits neurológicos que impedem a mulher de trabalhar, além dela precisar de cuidados constantes para fazer atividades básicas do dia a dia.
O atentado contra a filha impactou Nenê e era esperado que a chefe do Morro do Sabão executasse uma vingança contra os responsáveis pelos disparos contra a filha.
Marcos Vieira e a guerra chega a Turma do Meio
Em 3 de julho de 2020, o passo seguinte dessa guerra no Parolin ocorre quando Marcos Vieira, de 22 anos, é assassinado em uma viela do bairro. Vieira era um dos líderes da Turma do Meio.
Com os atentados em série, a PCPR abriu um inquérito para investigar os crimes cometidos no Parolin. A investigação ficou sob responsabilidade de Tito Barichello, atualmente deputado estadual, e que na época era o delegado da Delegacia de Homicídios.
A PCPR conseguiu uma testemunha que veio a balizar toda a investigação sobre o caso. Mesmo não tendo estado presente no local em que Marcos foi assassinado, por meio de informações colhidas junto a vizinhos e familiares, a delatora contou aos policiais que a Turma de Cima foi responsável pelo homicídio.
A testemunha apontou que os responsáveis pela morte de Marcos foram Badú, Oséias, Baé, Tchê e Índio. Os homens teriam chegado em um carro vermelho, se identificado como policiais e, após a vítima colocar as mãos na cabeça, realizaram diversos disparos.
Investigador da PCPR adiciona novos suspeitos
O investigador da PCPR citou durante a gravação do inquérito que, por meio do Disque Denúncias, outros seis suspeitos foram filtrados e apresentados a Barrichello como possíveis responsáveis pela morte de Marcos.
Mas esses seis suspeitos não estavam na lista apresentada pela testemunha à PCPR e também não eram ligados à Turma de Cima. Todos eram integrantes da Turma de Baixo e também comparsas de Marcos na Turma do Meio.
Ao final das investigações, a PCPR denunciou dez desses 12 suspeitos à Justiça:
- Willian;
- Brian;
- Nenê;
- Juninho PY;
- Índio;
- Oséias;
- Badú;
- Ygor;
- Baé.
Parolin Território em Guerra
O segundo episódio da série Parolin Território em Guerra será exibido nesta quarta-feira (24) e mostrará como as denúncias da PCPR não resolveram os conflitos no bairro.
A guerra entre facções criminosas no centro desta investigação jornalística com reportagem de Beatriz Frehner e produção de Pedro Neto.
Ao contrário, as ramificações do atentado contra Jessica e o assasinato de Marcos continuaram e resultaram em novos homicídios no Parolin.
Confira também nesta quarta-feira uma nova matéria sobre a série no Portal RIC.
Pronunciamento dos citados
Ministério Público do Paraná
O Ministério Público do Paraná informa que, em relação a casos de homicídio como estes indicados pela reportagem, muitos relacionados ao tráfico de drogas, é grande a dificuldade em obtenção de provas, por conta da complexidade dos crimes e, principalmente, em razão da intimidação feita em face de vítimas, seus familiares e testemunhas em geral. Assim, infelizmente, em muitas situações, a despeito do trabalho das autoridades policiais e do MPPR, não é obtido um mínimo de provas para, de acordo com a lei, iniciar um processo judicial e uma eventual condenação. Apesar disso, o Ministério Público do Paraná e as Polícias Civil e Militar mantêm uma linha de atuação firme para buscar a solução dessas e de outras mortes relacionadas ao crime organizado e homicídios, sempre na defesa das vítimas e no melhor interesse da sociedade paranaense. Por fim, cumpre destacar que é prioridade da Procuradoria-Geral de Justiça a atuação no Tribunal do Júri, para o julgamento dos casos de crimes contra a vida, tendo sido criado recentemente um núcleo especializado, o Grupo de Atuação Especial do Tribunal do Júri (Gajuri), com o objetivo de aperfeiçoar o desempenho dos promotores e promotoras de Justiça do Ministério Público do Paraná na defesa da vida.
Polícia Civil do Paraná
A Polícia Civil do Paraná (PCPR) informa que, as investigações de homicídios relacionadas com o tráfico de drogas tratam-se de casos complexos onde existe grande dificuldade na produção de provas de uma forma geral, em especial naqueles casos onde a prova testemunhal é a única que se tem, por conta da pressão e das ameaças exercidas pelas organizações criminosas sobre possíveis testemunhas e seus familiares.
Nesse contexto, em muitos casos, o medo incutido pelo tráfico e a intimidação exercida pelos marginais sobre as testemunhas e seus familiares faz com que muitas pessoas que testemunharam na fase policial não compareçam em juízo para ratificar suas afirmações, o que, infelizmente, pode acabar inviabilizando o início de um processo ou até gerar a absolvição de culpados ao seu final, em face das exigências legais e da existência de preceitos constitucionais.
Tito Barichello
1- Os processos mencionados pela RIC TV RECORD, advém da guerra entre traficantes. Infelizmente, nestes casos, os réus não foram condenados;
2- As investigações que envolvem “guerra” entre traficantes são extremamente complexas. As execuções praticadas por traficantes, são realizadas com armas sem identificação, munição sem origem, em locais que não tem câmeras e sem a presença de testemunhas Ainda assim, nossa Polícia tem conseguido muitas condenações na “Guerra do Tráfico”;
3- O Paraná possui um dos melhores índices de resolução de homicídios do Brasil. Todo o crime é investigado, inquéritos instaurados e diligências realizadas de acordo com a situação concreta. Muitas investigações de homicídio não alcançam provas periciais ou prova testemunhal. Prova da inexistência da impunidade é que Curitiba é uma cidade segura para os padrões brasileiros, sem nenhum bairro tomado por organizações criminosas ou milícias;
4- Nossa Polícia Judiciária e Científica são extremamente atuantes. Temos um Ministério Público engajado e extremamente competente. O Poder Judiciário nas Varas do Tribunal do Júri são um exemplo de trabalho e dedicação para todo o país;
5- Temos que lembrar que a persecução penal, abrange a fase inquisitorial que é policial e a fase judicial. Na fase policial a DHPP esteve presente nos locais de morte com os Delegados Plantonistas, Investigadores, Papiloscopistas e Polícia Científica;
6- Nesses casos citados pela RICTV nenhuma câmera de segurança foi encontrada em residências e comércios que pudessem auxiliar. Apesar da competência e esforço da Polícia Científica nada foi encontrado de relevante para fins de investigação. Nos casos mencionados nenhuma testemunha se predispôs a prestar depoimento por medo dos traficantes, que costumeiramente ameaçam e muitas vezes matam quem aceita colaborar com a polícia;
7- Em relação ao questionamento da “testemunha sigilosa eleita pelo Delegado Tito”, informamos não existe escolha ou eleição de testemunhas. As testemunhas, quando encontradas, são indicadas pelos Investigadores que realizam diligências de campo e não são escolhidas pelo Delegado. O Delegado não escolhe testemunhas, ouve todas aquelas que o relatório de investigação indica. Nos casos mencionados nenhuma testemunha aceitou prestar depoimento. Nesse caso foi oferecido o denominado “depoimento sigiloso”. Foram ouvidas sigilosamente somente aquelas testemunhas que aceitaram essa responsabilidade. O Delegado não “elege” nenhuma testemunha sigilosa. Toda testemunha é sempre ouvida e quando existente fará parte do inquérito. Em momento seguinte, na fase judicial, o Ministério Público “não elege testemunhas”. O Ministério Público ouvirá aquelas trazidas na investigação e outras que possam surgir durante a instrução probatória na fase judicial;
8- Em relação ao questionamento se as testemunhas sigilosas são investigadas, afirmamos que muitas vezes as testemunhas oculares de execuções tem vínculo direto ou indireto com a criminalidade, motivo pelo qual o depoimento deve ser analisado em todo seu contexto, para a devida análise pelo Poder Judiciário para fins de recebimento da denúncia ou pronúncia. No entanto, as testemunhas sabem que o depoimento sigiloso é quebrado na fase judicial, propiciado ameaças e mortes, conforme nossa legislação;
9- A RICTV, deve lembrar que o inquérito segue a regra do prazo de 10 dias para réus presos e 30 dias para réus soltos. O inquérito é enviado ao Poder Judiciário, cabendo ao Ministério Público analisar se as provas produzidas são suficientes para o início do processo. Em caso negativo o inquérito retornará à Delegacia. Em caso positivo, recebida a denúncia, todas as provas são reproduzidas em Juízo sem a participação policial. Todas as eventuais testemunhas são ouvidas novamente, cabendo ao Ministério Público, em caso de necessidade, requisitar novas investigações;
10- A ausência de requisição de novas investigações na fase Judicial, em regra, ocorre quando o Ministério Público não visualiza a existência de linhas de investigação não realizadas pela Polícia. Quando o Ministério Público compreende que as provas não são suficientes o caso não é levado a julgamento pelo Tribunal do Júri;
11- Após o envio dos inquéritos no prazo legal, não recebemos nenhuma requisição para novas investigações, diligências ou perícias nos anos em que o processo tramitou;
12- Eventuais ilícitos praticados por testemunhas não são apurados pela DHPP que investiga somente crimes dolosos contra a vida.
13- Pedimos a gentileza da RICTV trazer a verdade dos fatos. Em caso de indevida responsabilização, buscaremos na Justiça o devido direito de resposta;
14- Na certeza a que a RICTV realizará matéria jornalística responsável e isenta, renovamos nossos laços de estima e consideração.
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