Caso Leandro Bossi: "Nossa família foi torturada por 30 anos", diz irmão
A divulgação feita nesta sexta-feira (10) pelo Governo do Paraná de que o material genético de uma ossada é 99,99% compatível com o de Leandro Bossi, que desapareceu em 1992, aos 7 anos, em Guaratuba, no litoral do Estado, revoltou a família pela falta de informações sobre o caso.
Lucas Bossi, irmão mais novo de Leandro por parte de pai, contou à RICtv que se sentiu traído ao saber da notícia, horas antes da divulgação oficial, em uma ligação telefônica, por não saber onde está a ossada do garoto.
“Sinto como uma traição. Sentimento de privação da verdade. São 30 anos que a gente já poderia ter finalizado isso. Já que agora não é mais uma criança desaparecida, é uma vítima de homicídio, nos privaram de fazer um funeral. Muito triste”,
afirma o irmão.
Segundo ele, com base na ligação recebida, a ossada que teve o material genético compatível com Leandro é a mesma que ainda nos anos 1990 foi informada ser de uma menina. Ele diz que não sabe exatamente onde estão os restos mortais do irmão e que entendeu na ligação que poderia estar em Brasília.
“Descobrir que a ossada que era feminina, era de Leandro, é comprovar que nos torturaram por 30 anos”, afirma. “Na verdade, assistindo a coletiva, me veio esse ponto que me deixou bem revoltado. Não conseguiram trazer essa informação de cara, achei um despreparo. Não bastasse todos esses 30 anos de despreparo, deveriam ter preparado material melhor para nos apresentar”,
critica o familiar.
Lucas conta que descobriram um resto mortal de Leandro, que está em posse da polícia, mas que não souberam dizer onde está nem em qual circunstância foi encontrado.
“Isso incomoda muito, porque comprova de novo a incapacidade deles de trazerem fatos verdadeiros”,
desabafa.
O pai de Leandro e o irmão mais velho morreram entre 2020 e 2021. A mãe do garoto mora em Curitiba, mas não quis comentar sobre a descoberta. Segundo o irmão mais novo, foram 30 anos de espera para receber uma notícia que poderia ter sido dada antes.
“Nossa família foi torturada por 30 anos. Muito triste, meu pai nunca desistiu. A injustiça ainda paira”,
afirma.
Onde está a ossada?
O secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, confirmou em entrevista coletiva na tarde desta sexta a informação de que o material genético de uma ossada é compatível com o de Leandro Bossi.
Porém, ele não detalhou qual ossada foi usada nos exames, quando ocorreu a análise e nem detalhes sobre onde estão os restos mortais do garoto.
Na coletiva, Mesquita disse que oito amostras foram analisadas e comparadas com material genético de três mães de garotos desaparecidos, entre elas a de Leandro Bossi.
Ao final da coletiva, a delegada Patrícia Nobre da Paz, do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), negou-se a responder aos repórteres sobre onde estão os restos mortais do garoto e também sobre qual ossada foi analisada.
Em nota, o Governo do Paraná informou que a “novidade do caso é a elucidação do desaparecimento” e que o inquérito foi arquivado há 30 anos pelo Ministério Público. “Informações complementares sobre o caso dependem do acesso ao inquérito”.
Ainda na nota, o governo informou que o fragmento utilizado para análise estava na Polícia Científica, mas não detalhou desde quando.
O Ministério Público foi questionado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Relembre o caso
Leandro Bossi, de 7 anos, desapareceu na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, em 15 de fevereiro de 1992. O caso do menino de olhos azuis ganhou repercussão devido a outros eventos com crianças que aconteceram na mesma época na região, incluindo o caso de Evandro Caetano, que ganhou repercussão nacional.
Bossi desapareceu durante um show do cantor Moraes Moreira, que foi realizado em Guaratuba. De acordo com informações, o menino não estava acompanhado dos pais no evento – a mãe estava trabalhando e o pai pescando em alto mar.
A família de Leandro Bossi nunca desistiu da busca pelo filho, porém, nunca mais teve informações sobre o paradeiro da criança. De origem humilde, o pai do menino, João Bossi fabricou uma faixa e sempre realizava manifestações pela cidade em busca de solução para o caso do filho. Em abril de 2021, o pai do garoto faleceu.
Nesta sexta-feira (10) a Polícia Civil do Paraná informou aos familiares de Leandro Bossi sobre a compatibilidade do material genético de Paulina Bossi com os fragmentos ósseos localizados pela Polícia Científica.