'Policial não tinha que proteger a gente?', pergunta criança sobre chacina em Toledo
Beatriz Aparecida Lopes Becker, tia de Luiz Carlos Becker, um dos mortos da chacina de Toledo, no oeste do Paraná, precisou passar por uma situação constrangedora, além do enterro do sobrinho. Foi a pergunta inusitada da neta, de 8 anos, tentando entender o que havia acontecido na cidade:
“Minha neta me perguntou se policial não tinha que proteger a gente. Eu disse ééééé … não sabia nem o que falar pra ela. Fiquei muda”,
lamentou a avó.
A criança se referia ao policial militar Fabiano Júnior Garcia, de 37 anos, que matou oito pessoas nas cidades de Toledo e Céu Azul, entre a noite da última quinta-feira (14) e madrugada de sexta (15). Seis destas pessoas eram familiares do policial. Outras duas eram completos estranhos a Fabiano, incluindo Luiz Carlos Becker, sobrinho da Beatriz, que morreu só porque cruzou o caminho do policial no momento errado.
A explicação de Beatriz à neta foi difícil, mas precisou ser dada de alguma forma, mesmo que só com um balançar de cabeça, já que não era possível esconder da criança aquele clima muito pesado e que algo muito grave tinha ocorrido. Fabiano não estava suportando o término do relacionamento com a esposa, Kassiele Moreira Mendes Garcia, de 28 anos, com quem tinha dois filhos: Miguel, de 4 anos, e Kamili, de 8 anos. Fabiano ainda tinha mais uma filha, de outro relacionamento: Amanda, 12 anos.
Para terminar com tudo de vez, Fabiano matou a esposa e os três filhos. Ainda assassinou outras pessoas da família, para que não sobrasse “peso” para ninguém, como ele mesmo disse num áudio, antes dos crimes (clique aqui e ouça). Então matou sua mãe, Irene Garcia, 78 anos, e o irmão, Claudiomiro Garcia, 50 anos. Entre um crime e outro, ainda executou duas pessoas que cruzaram o seu caminho na rua e sequer conheciam o policial: Luiz Becker, 19 anos, e Kaio Felipe Siqueira da Silva, 17 anos.
“Ele era um piá muito querido. Muito unido com os pais. Estamos todos em choque”,
lamentou Beatriz, com perda do sobrinho, Luiz.
Sepultamentos
O enterro de Kassiele e dos filhos, Miguel e Kamili, ocorreu na cidade de São Pedro do Iguaçu, na metade da tarde deste sábado (16). A tristeza, a revolta e a comoção “gritavam” em meio ao silêncio sepulcral do cemitério, que fica no meio de uma área de plantações da cidade. Todos ainda estavam em choque, sem conseguir entender direito como tudo aquilo aconteceu.
O tio de Kassiele, o agricultor José Rigo, foi um dos primeiros a ver as crianças mortas. Ele é dono da propriedade onde os avós das crianças moravam e onde elas estavam passando as férias da escola.
“Quando cheguei, me deparei com aquela situação. As crianças já estavam mortas, não tinha o que fazer”,
disse o agricultor, ainda sem entender porquê Fabiano fez tudo isso.
As vítimas da chacina já foram sepultadas neste sábado (16). O único a ser sepultado ainda na sexta-feira (15) foi o próprio policial. Ele foi enterrado direto, sem velório, conforme pedido da família.