“Não quero ser mencionado. Sou advogado. Se o “Cláudio não interromper”. Eu tenho um nome. Um trabalho que me segue. É DR. DALLEDONE. Não quero ser interpelado. Eu não sou personagem”, disse Claúdio Dalledone

Nesta terça-feira (19), uma discussão entre o advogado Cláudio Dalledone e Nilton Ribeiro marcou o depoimento de Regina Assis, tia do jogador Daniel. Após ser chamado de Cláudio, Dalledone interrompeu o depoimento de Regina bastante irritado. 

Antes da confusão

Minutos antes da confusão, Regina contava sobre o momento em que o irmão de criação do jogador ligou para dar a notícia à família: “ele ligou pra mim e ele gritava no telefone: mamãe, esse menino que está aqui é o nosso menino mesmo mãe. É o Daniel. E você não faz ideia de como eu vi o Daniel. Ele está desfigurado do tanto que apanhou. Ele está com o pescoço muito cortado, e é verdade que arrancaram o pênis do Daniel”.

Após o trecho acima aconteceu uma das discussões mais marcantes dos três dias de audiência. Cláudio Dalledone, advogado da família Brittes, demonstrou-se bastante irritado ao ser chamado pelo primeiro nome. “Se o Cláudio não me interromper”, continou Regina em uma parte do depoimento.

Antes mesmo de concluir o pensamento a tia da vítima foi interrompida pelo advogado. “Não quero ser mencionado. Sou advogado. Se o “Cláudio não interromper”. Eu tenho um nome. Um trabalho que me segue. É DR. DALLEDONE. Não quero ser interpelado. Eu não sou personagem”, disse ele.

Perplexo, a voz de Nilton Ribeiro, advogado da família de Daniel, aparece aos fundos em defesa de Regina e pede por ordem e respeito, o que parece piorar ainda mais a irritação já demonstrada por Dalledone.

Aos berros, o advogado da defesa pede para que não seja interrompido. “Eu estou falando. Não me interrompa”. Em resposta, Nilton diz: “eu não vou permitir isso. Eu não vou permitir isso”. Claramente exaltado, Dalledone levanta o tom de voz mais um vez: “abaixa o tom comigo. Tira o dedo. Abaixa o tom comigo”.

Para cessar a confusão, a juíza Luciani Regina de Paula, da 1° Vara Criminal de São José dos Pinhais, precisou intervir na briga: “parem os dois. Vocês querem continuar ou não???”. 

Terminologia: é errado chamar advogado de doutor?

Não é errado chamar advogados de doutor, mas também não é obrigatório. Segundo o que consta em dicionários modernos, doutor é um termo usado para qualquer indivíduo que tenha concluído um doutorado, seja essa pessoa formada em medicina, direito, jornalismo, biologia, farmácia, entre outros.

O costume de chamar advogados e médicos de doutor vem da época de dom Pedro 1º, do Brasil colônia. Na ocasião, por volta de 1827, dom Pedro decretou que quem concluísse os cursos de ciências jurídicas e sociais no Brasil deveria ser tratado como “doutor”. 

A orientação caiu em desuso, mas se manteve em algumas pessoas de forma cultural, que acabam utilizando a terminologia diante de algumas situações e profissionais.

Nota da OAB

A redação do RIC Mais solicitou por meio de nota como a Ordem dos Advogados do Paraná (OAB-PR) se posiciona em relação ao termo, mas até o momento não obtivemos retorno. Por telefone, a comunicação informou que o uso é, de fato, cultural, e não obrigatório. 

Depoimento Regina Assis

Após a mãe do jogador foi a vez da tia de Daniel, Regina Assis, prestar depoimento. Para ela, Dalledone perguntou sobre um acidente que a vítima teria sofrido, já que dentro do carro que dirigia teria sido encontrado uma garrafa de whisky. Em resposta, Regina confirmou, mas disse que a bebida não era de Daniel e que, naquela noite, ele não havia consumido bebida alcoólica, e que vai juntar no processo um laudo médico que comprova a informação.

Regina também destacou que Daniel era um rapaz correto, e que nunca tinha se envolvido em nenhum tipo de briga. Como jogador, segundo ela, a vítima sequer recebeu um cartão vermelho. “Ele me perguntou o que eu acho que motivou o Edison a fazer o assassinato do Daniel e eu respondi pra ele que, na minha concepção, nada motiva alguém matar outra pessoa”, disse.

Para a tia, caso o sobrinho tivesse cometido qualquer coisa contra alguém, eles deveriam ter chamado a polícia. “Agora, agredir, bater muito, fazer com que o Daniel ficasse vomitando sangue naquela casa, fazer o Daniel pedir pra não morrer naquela casa… Eles citaram coisas que eu nunca mais vou esquecer. Esses meninos falaram assim, como é que vocês escutaram a morte do Daniel? Eles falaram assim: “a gente escutou como se tivesse matando um porco”, conclui.

Depoimento da mãe do jogador

Nesta terça-feira (19), a mãe do jogador Daniel Corrêa prestou depoimento por aproximadamente uma hora. Na ocasião, era a primeira vez que Eliana ficava cara a cara tão de perto com o assassino confesso Edison Brittes, que a encarou durante toda a audiência.

No momento em que contava sobre como soube da morte do filho, Eliana chamou os acusados de assassinos. Cláudio Dalledone, advogado de defesa da Família Brittes, questionou se ela tinha conhecimento de que Edison havia confessado o crime, e Eliana rebate: “ele não tinha outra saída”, Na sequência, a mãe continuou falando sobre a forma que o acusado mentiu para a família quando disse que não sabia o que tinha acontecido com Daniel, mesmo já tendo o assassinado.

“Fiz questão de olhar para eles”

Eliana disse que ao entrar na sala da audiência fez questão de olhar para o rosto de cada acusado.  “O que leva uma pessoa a fazer uma tortura? O que leva uma pessoa a torturar, matar, esquartejar uma pessoa? Pra mim eles não são nada. Não são nada, não representam nada pra mim. Quem representava algo pra mim era o meu filho, eles não”, diz Eliana durante depoimento.