Coronavírus em Curitiba: trabalhadores se reinventam para sobreviver à crise
A pandemia do novo coronavírus obrigou muita gente a se adaptar para continuar mantendo o sustento. Em Curitiba, o dia do trabalhador, celebrado nesta sexta-feira (1), talvez seja um pouco diferente. Mas várias pequenas empresas começaram a pensar além para não ter que fechar as portas neste momento de crise. Todos enxergam que, embora o sofrimento, a crise provocada pelo vírus tem permitido acima de tudo se reinventar.
No bairro Pinheirinho, a casa de carnes Corte Nobre, de Rafael Till aproveitou um serviço que já era utilizado e fez dele o carro-chefe do negócio nesse momento de crise: o delivery de carnes. O trabalho realizado pelo açougue se tornou até mesmo referência para outros pequenos empresários, que seguiram a ideia.
“O período da quarentena houve uma demanda muito forte com o delivery, o que nos forçou a adaptar para poder atender a essa demanda”, destacou Rafael, que criou alguns kits para facilitar a entrega para os clientes.
Com entrega gratuita em toda Curitiba, Rafael viu o movimento do balcão do açougue diminuir drasticamente, mas aumentar e muito no delivery. De 30 kits que eram entregues por dia antes da pandemia, hoje são mais de 100. Com isso, ao invés de realizar demissões, a empresa contratou mais funcionários.
“A gente viu o mercado de outros setores encolhendo, mas nós tivemos que ter até um incremento de pessoal, principalmente no atendimento, que eu tive que dobrar a equipe. Na parte de produção também tivemos que aumentar o quadro. Foi toda uma adaptação da nossa casa durante o período, não iriamos aguentar muito tempo no pique que estávamos”.
Dos eventos, para o delivery: restaurante se adaptou
No caso do restaurante Anah Gastronomia, que fica na Cidade Industrial de Curitiba, a proprietária Ana Paula, se viu num momento complicado. Com um empreendimento especializado em eventos, a necessidade de adaptação mostrou um novo caminho depois que as festas tiveram que ser remarcadas ou canceladas.
A empresa se reorganizou e começou a fazer um café colonial para entregar em casa. “A gente sempre serviu o café colonial aberto ao público, principalmente no dia das mães, esse ano como sentimos que não daria certo, elaboramos essa ideia para estarmos presentes nas famílias“, destacou.
Ana Paula comentou que o café colonial em casa foi uma forma que encontrou também de manter o restaurante em atividade. “Poder manter a tradição do nosso café colonial, poder apresentar a oportunidade para a família que está em casa e não conhece, e manter nossa equipe trabalhando também”.
Tatuador parou, mas os clientes não o deixaram na mão
Como não foi só o setor da alimentação afetado pela pandemia, muitos outros precisaram parar as atividades principalmente por precaução. No bairro São Francisco, em Curitiba, o tatuador Wellinton, conhecido como Formiga, viu nesse momento de crise a solidariedade das pessoas entrando em ação.
“O pessoal me procurou, quem já tinha agenda, para acertar as tatuagens e isso de certa forma me ajudou bastante. Também procurei desenvolver alguns desenhos para vender, os orçamentos que chegaram nessa época também comecei a pedir sinal, uma coisa que eu não fazia antes. Foi o que me ajudou“, contou Wellinton.
Na próxima semana, o tatuador deve voltar com suas atividades, priorizando aquelas pessoas que já pagaram pelas tatuagens, mas com todo o cuidado necessário. “Os cuidados a gente sempre teve. Só que agora a gente vai redobrar, continuar com um cliente por dia, sem trazer a família, amigos”.
Da fotografia para a pintura de camisetas
Na casa de Silvia Letícia Fabris, no Bigorrilho, a adaptação também foi necessária: fotógrafa há mais de seis anos, ela se viu sem poder trabalhar por conta da quarentena e encontrou, num hobby antigo, uma possibilidade de fonte de renda. Silvia tem feito camisetas com pinturas de animais de estimação. A pessoa manda a foto e ela retrata.
“A procura tem sido muito grande, graças a Deus. O pessoal está gostando bastante. Sempre que eu posto nas redes sociais todo mundo elogia muito e está tendo uma boa repercussão”, comentou Silvia. “Não tem o mesmo retorno financeiro que a fotografia, mas me ajuda nesse momento difícil”.
Pandemia vai deixar legado aos trabalhadores
Com a necessidade de reinvenção, enfrentando todos os problemas decorrentes da crise, os profissionais acabaram percebendo que, em meio a toda essa negatividade, a pandemia já deixa um legado. “Acho que a questão da solidariedade. Temos que parar para pensar um pouco no próximo, um pouco na pessoa do lado. Esse é o principal legado que vamos levar nesse momento do que está acontecendo em nosso país“, avaliou Rafael Till.
“Uma coisa muito legal desse momento foi sentir que os clientes estão juntos. O principal público nosso são os clientes dos eventos, e nós estamos ali, tentando manter todos os sonhos, porque tudo vai acontecer”, comentou Ana Paula Mafra.
Para o tatuador, o que mais lhe impressionou foi a empatia. “A união, um ajudando o outro, bem mais do que antes”, definiu Wellinton. E para a fotógrafa, a esperança de que dias melhores virão. “Pra mim está sendo uma grande lição, em todos os sentidos. Acredito de verdade que tudo vai melhorar quando voltar ao normal“, disse Silvia.