Conheça a cloroquina, um dos motivos da saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde
Um dos principais pontos de discórdia entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich foi a visão sobre a aplicação da cloroquina a pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Bolsonaro defende o uso da cloroquina para coronavírus, que ainda não possui comprovação de eficácia contra a Covid-19.
“O protocolo deve ser mudado hoje porque o Conselho Federal de Medicina diz que pode usar desde o começo. Então, é direito do paciente”, disse o presidente nesta sexta-feira (15).
A orientação do Conselho Federal de Medicina (CFM), no entanto, condiciona o uso da substância cloroquina ao consentimento do paciente, e a critério médico.
Na quarta-feira (13), o oncologista Nelson Teich, ainda ministro da pasta, afirmou que a cloroquina ainda é uma incerteza.
“Você teve aqueles estudos iniciais que sugeriram benefícios, mas existem estudos hoje que falam o contrário”, disse.
Nos bastidores, antes de pedir demissão, Teich teria dito que não mancharia a trajetória como médico por causa do medicamento.
A polêmica não é nova. A substância também causou desgaste entre o presidente Bolsonaro e o então ministro Luiz Henrique Mandetta, que era contrário à liberação de cloroquina para coronavírus sem estudos mais sólidos.
O que é a cloroquina?
A substância cloroquina sintética foi desenvolvida em 1934 para o tratamento da malária. O medicamento tem efeito imunomodulador, que aumenta a resposta do sistema imunológico, ou de defesa do corpo, contra determinados micro-organismos.
Ao longo do tempo, a medicação teve seu uso ampliado, e passou a tratar também doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus. A droga faz parte da Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Cloroquina e o novo coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro é um entusiasta do uso da cloroquina desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou a droga como uma possibilidade de tratamento da doença. Ainda em março, Bolsonaro determinou que os laboratórios do Exército ampliassem a produção da substância no país, mesmo sem comprovação clara de eficácia contra Covid-19.
A cloroquina ganhou destaque no início da pandemia da Covid-19 após alguns pequenos estudos iniciais indicarem que a droga teria um potencial para reduzir a infecção pelo novo coronavírus em células humanas cultivadas em laboratório.
No entanto, nas últimas semanas, pesquisas divulgadas nas principais publicações científicas do mundo mostraram que a cloroquina não é eficaz no combate ao coronavírus.
Estudos publicados no Journal of the American Medical Association (JAMA) e New England Journal of Medicine (NEJM) mostram que o uso da hidroxicloroquina associada, ou não, ao antibiótico azitromicina não apresentou diferenças significativas na taxa de mortalidade dos pacientes diagnosticados com Covid-19. Ou seja, pacientes com e sem o tratamento com a cloroquina apresentavam o mesmo risco de uma piora do quadro e de morte.
Cloroquina no Brasil
Ainda em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com quadros graves da Covid-19. Um mês depois, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ampliou o uso para, inclusive, o período de início dos sintomas. No entanto, fez uma observação:
“NÃO É UMA RECOMENDAÇÃO. O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA NÃO RECOMENDA O USO DA HIDROXICLOROQUINA. O QUE NÓS ESTAMOS FAZENDO É DANDO AO MÉDICO BRASILEIRO O DIREITO DE, JUNTO COM O PACIENTE, EM DECISÃO COMPARTILHADA COM O PACIENTE, UTILIZAR ESSA DROGA. É UMA AUTORIZAÇÃO. MAS NÃO É RECOMENDAÇÃO, ISSO É MUITO IMPORTANTE FICAR BEM CLARO”.
De acordo com a OMS, não existe até o momento nenhum tratamento eficaz para a Covid-19 no mundo.