Mãe que perdeu filho em UPA fala sobre impotência: 'depender de outra pessoa e ser negada'
A mãe de uma criança de 6 anos, que morreu por causa de uma complicação médica, após uma cirurgia para retirar a amígdala, fala sobre o sentimento de impotência, ao ter seu pedido de internamento do filho negado em uma Unidade de Pronto Atendimento de Toledo, no Oeste do Paraná. Como ela mora muito longe da UPA e o menino estava passando por uma recuperação muito delicada, ela pediu que a criança ficasse na UPA para evitar o longo trajeto. E não deu otura: numa emergência, a criança morreu a caminho do hospital.
Em entrevista à equipe da RICtv, a mãe do menino Ygor, Bruna de Andrade, relata o que passou antes da morte de seu filho. “Jorrava sangue, ali ele deve ter perdido em torno de dois litros de sangue. Ele estava muito pálido, muito fraco”, relatou.
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De acordo com Bruna, o menino passou por uma cirurgia de retirada de amígdalas no último dia 30, na cidade de Curitiba. O médico responsável pelo procedimento informou que em caso qualquer de complicação ou sangramento pós-cirurgia, o paciente deveria retornar imediatamente para nova avaliação.
desabafou a mulher.
A mulher contou que disse ao profissional de saúde que mora no interior – em São José das Palmeiras, na região Oeste do Paraná – mas o médico disse que tem helicóptero, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), todo um suporte e disse para que ela não se preocupasse.
Na segunda-feira (4), a criança teve sangramento e o Samu foi acionado pela mãe. Após duas horas de espera, levou a criança para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Toledo, cidade vizinha. Depois da avaliação, o menino recebeu alta hospitalar. Mesmo discordando da situação, a mãe voltou para sua residência, que fica há 62 quilômetros da UPA.
“Eu ainda falei pra médica: ‘não doutora, eu sei onde que eu moro, eu prefiro aqui do que ele em casa, porque eu sei que quando eu voltar vai ser difícil”,
contou a mãe.
Conforme a Bruna, a médica disse que não tinha vaga para internar o garoto.
Segundo o relato de Bruna, no dia seguinte, a criança apresentou novo sangramento. A família ligou novamente para o Samu, mas a ajuda não chegou. Neste momento, um vizinho se ofereceu para levá-los ao hospital da cidade e, no caminho, Ygor teve a primeira parada cardiorrespiratória.
Eles procuraram o único hospital de São José das Palmeiras. A equipe médica fez todos os procedimentos para reanimar a criança, mas Ygor já estava sem vida.
“É uma lembrança que eu não quero que se repita com nenhuma das minhas crianças nem com outras, é muito doído você ver seu filho se desfalecendo no seu colo e você saber que depende de outra pessoa. Eu acho que a pior coisa na vida é depender de outra pessoa e ser negada, isso é doido e ele lutou pela vida dele”,
disse Bruna.
Investigações sobre a morte da criança na UPA
Em nota, a diretoria da Unidade de Pronto Atendimento de Toledo lamentou a morte da criança e informou que os fatos estão sendo apurados, caso seja encontrada alguma irregularidade serão tomadas medidas de acordo com análise e o parecer da instituição. Veja nota na íntegra:
“No dia 06 de julho de 2022 foi registrado óbito da criança Y.A. de 6 anos de idade. Sobre o ocorrido, é importante esclarecer os seguintes pontos:
A criança deu entrada na UPA Toledo no dia 04 de julho de 2022 às 15:38 horas, trazida pelo SAMU. Y.A. foi amplamente assistido pela equipe, mantido em observação e realizado hidratação e medicações intravenosas. Não houve necessidade de internamento na ocasião, devido à melhora clínica.
O inquérito tem 30 dias para ser concluído. Profissionais de saúde e demais pessoas que deram atendimento a essa criança serão ouvidas e os prontuários médicos serão requisitados. Após ser concluída essa etapa, o inquérito é encaminhado para o Poder Judiciário”, disse Geraldo Evangelista de Souza.”