Falta de remédio para varíola do macaco pode levar a cegueira
A demora no acesso ao tecovirimat, único remédio aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento da varíola dos macacos, pode fazer a doença evoluir de forma desenfreada e com manifestação ocular atípica. Isso ocorreu em pelo menos dez pacientes da monkeypox (ou mpox) em São Paulo, tratados por Luciana Finamor, oftalmologista especializada em infecções oculares.
Segundo o Ministério da Saúde, até o momento, foram entregues 28 tratamentos ao Brasil por doações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da fabricante. Desses, 16 chegaram em novembro, dos quais dez foram diretamente encaminhados aos pacientes elegíveis.
Em dois deles, a espera de 60 dias pelo medicamento provocou a cegueira de um dos olhos, quadro que a literatura existente até hoje não sabe determinar se é reversível.
A última remessa de tecovirimat que chegou ao Brasil trouxe os tratamentos de dois pacientes em São Paulo, atendidos na rede pública, que eram acompanhados pela reportagem. Em ambos, a varíola dos macacos evoluiu sem tratamento viral específico por dois meses e de forma grave, transmitindo as feridas da pele para as córneas e comprometendo a visão de ambos até a cegueira
Casos de manifestação ocular da varíola dos macacos ainda são raros, mas já foram documentados. Em relatório de outubro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla original em inglês) dos Estados Unidos alertou que a doença pode causar “sérias complicações” nos olhos, com cinco casos registrados no país entre agosto e setembro, todos tratados com tecovirimat.
Os sinais aparecem depois que as feridas de pele já estão parcial ou totalmente cicatrizadas, cerca de 15 a 40 dias após o início dos sintomas mais comuns, como febre, dor e fadiga. Eles começam como uma irritação no olho, que pode ficar avermelhado, lacrimejante, com forte sensibilidade à luz e sensação de areia por trás da pálpebra, podendo evoluir até a perda da visão.