Instituto Gris aposta nas mulheres 40+
Mais de 54 milhões de brasileiros já passaram dos 50 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Se considerarmos apenas as mulheres, o número representa 13,7%, ou mais de 29 milhões de pessoas. O mercado está atendo ao potencial de consumo desse grupo e suas demandas específicas.
Isso porque, nos últimos anos, a pandemia acelerou um processo que vinha acontecendo de forma lenta e escancarou algo óbvio: estas mulheres não pretendem ficar sentadas na varanda. “Elas querem se manter na ativa, profissional, social e sexualmente, então precisam de produtos e soluções que as auxiliem nessa jornada, olhando e compreendendo as mudanças que chegam com o avanço da idade”, explica o empresário Bruno Guimarães, idealizador do Instituto Gris.
Ao lado da amiga e sócia Alexandra Ongaratto, médica ginecologista e diretora técnica do Gris, e um grupo de médicos e investidores, Bruno fundou o Instituto, com o objetivo de oferecer serviços de saúde e bem estar ao público feminino 40+. Este ano, a expectativa do grupo é faturar R$ 10 milhões e, a partir do ano que vem a marcar deverá ser vista em outras capitais do Brasil.
Com a chancela profissional de Alexandra, que é especializada em Ginecologia Endócrina e Climatério, e em Geriatria e Gerontologia, ainda é membro da Sociedade Brasileira de Climatério, da International Menopause Society e da International Society of Gynecological Endocrinology, o Instituto Gris tem uma imensa estrutura de atendimento médico, equipamentos de primeira linha como lasers e aparelhos de radiofrequência e um grupo multidisciplinar composto por médicas, enfermeiras, terapeutas, fisioterapeutas e outros profissionais.
Um braço da instituição atua na formação profissional de médicos e no intercâmbio de experiências. Em março deste ano, o Gris recebeu para ministrar cursos de cirurgia íntima no Brasil, o médico polonês Dawid Serafin, estrela internacional e especialista em labioplastia. Mais de 30 ginecologistas de todo o País acompanharam as aulas.
Além disso, no ano passado foi lançada a linha Gris Intimates, cosmecêuticos desenvolvidos pela própria Alexandra em parceria com uma indústria farmacêutica, voltada à saúde íntima da mulher.
O projeto do grupo é, a partir de 2024, inaugurar franquias do Instituto em outras capitais brasileiras. Com investimentos que podem variar entre R$ 3,5 mi e R$ 4 mi por unidade, o Instituto Gris esperar estar presente em outras quatro cidades até o final do ano que vem.
“Enquanto nos Estados Unidos e na Europa os negócios voltados à saúde e bem-estar deste público já proliferam, a oferta ainda é tímida no Brasil”, comenta Alexandra. Segundo ela, a sexualidade e da mulher madura é tema que merece mais debate. A médica afirma que o problema está diretamente relacionado à invisibilidade dessa mulher na sociedade.
Ela arrisca dizer que a ciência e indústria investem tempo e dinheiro para encontrar maneiras de reverter o envelhecimento. “O que precisamos entender é que é possível envelhecer bem e com saúde”, explica. Ela reforça esta tese lembrando a necessidade que muitas mulheres sentem de esconder a própria idade, como se tivessem controle sobre o fluxo do tempo. “Temos de acabar com a justificativa que ouvimos de estar bem para a sua idade”, cutuca.
Nadando contra a corrente, a mulher 40+ de hoje está mais confiante em ser ela mesma, assumindo os cabelos brancos, as mudanças no corpo, as rugas, a chegada da menopausa – e sem muita paciência para estagnação, diz.
O Instituto Gris é um execelente exemplo do surgimento da chamada economia prateada, que começou modesta há cerca de uma década e agora começa a ganhar mais pujança. O marketing já entendeu a importância da consumidora 50+ para os negócios, isso porque costuma trabalhar alinhado às artes e à literatura, onde este movimento já mostrou as caras há mais tempo.
“Precisa aprofundar o diálogo para conhecer, porque a gente parte do princípio de que é um grupo homogêneo, quando na verdade é diverso. Tem de entender quais são os percentuais e perfis dentro da diversidade dessa consumidora”, defende.
“Está caindo a ficha para as empresas ligadas à saúde e ao bem-estar que seus clientes envelheceram, mas continuam tendo demandas. As que querem manter o próprio consumidor, em vez de mirar em pessoas mais jovens, precisam entender estas demandas. A maturidade tem uma nova cara e tem novos públicos chegando a essa fase da vida”, completa.
Alexandra, que ainda comanda um podcast sobre climatério e menopausa, acredita que é fundamental se relacionar com mulheres desta faixa etária para colher insights. No recorte das mulheres, por exemplo, há uma experiência de vida diferente das gerações anteriores.
Enquanto as mães das novas 50+ tinham dificuldade de discutir temas como menopausa e sexualidade, vistos como tabus, as filhas tomaram pílula anticoncepcional e começaram a falar mais abertamente sobre prazer sexual.
Para o empresário Bruno Guimarães, focar nesses aspectos pode gerar grandes sacadas para marcas e negócios. “As mulheres são as grandes decisoras de compras, principalmente na maturidade”, aponta, vislumbrando um leque enorme de oportunidades.
“Com o Gris aprendi que corpo sofre transformações com a menopausa. Isso gera oportunidades não apenas para o setor de saúde, mas para a indústria da moda, e dos cosméticos, por exemplo. Todas querem acompanhar tendências, mas em vez de se adaptar às consumidoras, o mercado fica impondo o padrão estético dos 20 anos. Quando a indústria entender este gap, vai bombar”, alerta.
Ele lembra ainda que não só os produtos devem ser inclusivos, mas também o marketing e a publicidade, que precisam trabalhar a representatividade. “Não dá para querer vender cosmético para as 60+ e colocar uma mulher de 40 anos na campanha”, finaliza.