“Familiando” sem tantos estresses
“Familiando”
A palavra “familiando” está posta nesse texto no gerúndio do verbo “familiar”. Propositalmente busca-se, pelo verbo assim empregado, focalizar o movimento e as dinâmicas da família em sua convivência. Numa conjugação do verbo “familiar”, na terceira pessoa do plural, do presente do indicativo, poderíamos dizer que eles (os membros da família) “familiam” ou estão “familiando”. Assim o fazem ao se agruparem em torno de suas características relacionais peculiares e de suas próprias idiossincrasias. É “familiando” que os membros convivem. Essa convivência pode estar estruturada com mais ou menos estresses, dependendo se está mais inclinada ao acolhimento e cuidado ou ao ataque e abandono.
“Familiando” sem tantos estresses
Apesar das crises serem inevitáveis, será que é possível uma família conviver “familiando” sem tantos estresses? Certamente que é. Famílias mais flexíveis para mudanças e adaptações necessárias, na medida em que todos vão se modificando em suas faixas etárias, conseguem avançar melhor, sem tantos percalços. Poderíamos citar muitas possibilidades do “familiando” sem tantos estresses. Aqui pontua-se a importância de serem monitoradas as irritações, do abandono da comunicação violenta, da promoção da comunicação dialógica e do estabelecimento de fronteiras mais claras das funções de cada membro da família.
Monitorando as irritações
Essa é uma tarefa especialmente indicada para o desempenho dos pais (pai e mãe). São eles os adultos da relação familiar, portanto, se espera que tenham mais controle de suas emoções, por isso precisam monitorar as irritações. Um “familiando” sem tantos estresses requer uma atenção especializada para a forma como os pais lidam com suas emoções.
Abandonando a comunicação violenta
Um “familiando” sem tantos estresses requer uma observância do vocabulário empregado e do tom de voz utilizado. Abandonar a comunicação violenta requer uma revisão e reformatação do vocabulário, se este for ofensivo. Atacar a integridade pessoal, desqualificar, abusar psicologicamente e moralmente, pode destruir uma família. Além de abandonar a comunicação violenta é imperativo que se abandone, ou se evite qualquer tipo de agressão física.
Promovendo a comunicação dialógica
A reciprocidade é requisito básico para a comunicação dialógica. Numa correspondência mútua de fala e escuta, o “familiando” pode se constituir com muito menos estresses. Para haver diálogo, a fala precisa ser assertiva no uso do direito de falar da opinião e do sentimento, sem, no entanto, ofender o outro. A escuta, por sua vez, precisa ser empática, de forma a se levar em consideração a perspectiva do outro, buscando compreender o que o outro diz, sem interpretar ou valorar as opiniões e os sentimentos.
Estabelecendo fronteiras mais claras das funções de cada membro da família
As funções dos membros da família se definem pela relação e pela faixa etária. De acordo com essa perspectiva, os adultos são os maiores responsáveis pelo “familiando” sem tantos estresses. São eles que monitoram o clima emocional da casa, assim como são os responsáveis pelas instruções das regras, das rotinas e das dinâmicas familiares. Também são os adultos da casa que devem promover a educação das crianças e dos adolescentes para a vida, com o objetivo de facilitar a aquisição gradativa da autonomia e independência. Os menores da casa ficarão liberados para crescerem, se desenvolverem e evoluírem em suas faixas etárias. Nessa jornada, os filhos tendem a venerar seus pais na fase neonatal, a admirá-los como seus heróis na infância e a se desencantarem deles na adolescência. Ao chegarem na fase adulta podem finalmente compreender os pais como humanos imperfeitos, e assim, mais maduros, também assumirem as responsabilidades de adultos.
As famílias estão num constante “familiar”
Como em um ninho, no qual os animais se aconchegam, os membros familiares “familiam” em sua convivência. Pode ocorrer de forma funcional ou disfuncional, ou seja, a convivência pode se configurar com menos ou mais estresses em meio aos desafios familiares. A boa notícia é que mudanças sempre são possíveis, tanto para famílias funcionais, que podem evoluir ainda mais, como para famílias disfuncionais, que podem descobrir interações mais saudáveis e evoluir também. Assim sendo, qualquer família pode conviver “familiando” melhor e sem tantos estresses.