Antinatalismo e niilismo: o que leva alguém a falar que não queria nascer?
Além da recusa à própria existência, profissionais explicam o motivo da grande recusa ao trabalho por parte de jovens
Recentemente, viralizou no TikTok um vídeo em que um jovem de 21 anos afirma que não deveria trabalhar, pois “nasceu sem seu consentimento”. O tiktoker argentino Hassan Azteca, argumenta que os pais o geraram sem o consultar, sugerindo que não deve arcar com responsabilidades como o trabalho. O vídeo reacendeu em alguns fóruns da internet a perspectiva filosófica do antinatalismo. Mas afinal, o que é isso? Essa filosofia estaria correta para este caso?
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Sustentada por pensadores como David Benatar, o antinatalismo é a crença de que trazer filhos ao mundo seria moralmente errado. Os antinatalistas argumentam que a vida é cheia de sofrimento, e questões como superpopulação e impacto ambiental tornariam injusto trazer uma nova vida ao mundo sem o seu consentimento.
A professora de Psicologia da Universidade Positivo, Janete Knapik, explica que as razões para alguém afirmar que não queria ter nascido são múltiplas e complexas. Ela acredita que o caso de Azteca não esteja ligado ao antinatalismo, mesmo que semelhante.
“O desejo de não ter filhos está muito relacionado às preocupações, com o sofrimento humano. Enquanto o que leva uma pessoa a não querer viver ou ter nascido está migado mais ao sentido da vida, esperanças e propósitos”, diz Knapik. A profissional acredita que a fala do tiktoker poderia estar mais relacionada ao niilismo, doutrina filosófica pessimista em relação ao valor e propósito da vida e da existência.
Ela afirma que a sensação de “solidão existencial”, questões de saúde mental, como depressão e ansiedade, e desesperança, são fatores que podem levar a tais declarações. Além disso, cita não existir um termo específico na psicologia para abranger todas essas causas, pois são variadas e requerem avaliação detalhada.
Knapik destaca que a inatividade e a falta de propósito são prejudiciais para a saúde mental dos jovens. Sem um objetivo claro, uma pessoa pode perder a motivação e resiliência necessárias para enfrentar os desafios da vida. Encontrar um sentido para a vida e ter objetivos é fundamental para desenvolver recursos psicológicos e conquistar o que se deseja.
A recusa ao mercado de trabalho entre jovens é um fenômeno com vários ângulos. Jovens “nem-nem” (que não estudam nem trabalham) podem sofrer de baixa autoestima, depressão e ansiedade, que são causas e consequências de sua inatividade.
O psicólogo e psicanalista, Ederson Frazon, destaca que em determinadas formas de criação, a criança chega em um estágio de culpabilização do outro pelo estar vivo ao enfrentar situações mais difíceis, como o trabalho. Ele afirma que por mais que seja um sofrimento estar nesse lugar, existe um ganho, pois fazer nada seria um prazer para a pessoa.
Frazon menciona a logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl, que enfatiza a importância de encontrar um sentido para a vida. Ele argumenta que a falta de necessidade de trabalhar pode estar ligada a um “ganho secundário”, onde o indivíduo é sustentado por outros desde a infância e não desenvolveu a capacidade de se responsabilizar por suas próprias ações e existência.
A professora observa que a inatividade tem consequências graves não apenas para os indivíduos, mas para a sociedade como um todo. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que jovens inativos enfrentam maiores dificuldades em adquirir habilidades e experiências necessárias para o mercado de trabalho, resultando em menores ganhos ao longo da vida e menor contribuição ao PIB. A falta de atividades estruturadas e objetivos também pode levar ao isolamento social e piora da saúde mental.
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