A maldição das drogas: “A gente vai roubar, pedir ou catar recicláveis”, diz dependente

Publicado em 11 out 2021, às 17h15. Atualizado em: 6 set 2023 às 14h28.
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A primeira reportagem da série especial ‘A maldição das drogas’ foi ao ar no Balanço Geral Curitiba nesta segunda-feira (11). Os repórteres Emanuel Pierin e Robson Silva foram às ruas de Curitiba para contar as histórias de pessoas que em algum momento da vida se perderam no mundo da dependência química. (Assista vídeo abaixo)

Eles abandonaram as famílias, os amigos, os empregos, tudo, pelo vício e hoje vivem nas ruas da capital. Rogélio Aparecido, ex-funcionário de supermercado e que hoje mora em um barraco, conta que já teve casa, emprego e esposa, mas o vício em crack fez com que ele desistisse de tudo.  

“Todo mundo tem uma história meio parecida. Só muda o personagem e o nome. Eu saí, separei da minha ex-mulher e saí para rua. Na época, eu trabalhava, tinha meu emprego, emprego bom por sinal”,

lembra ao falar de sua antiga vida. 

Conforme seu relato, além da dependência, do frio e da fome, ele precisa lidar todos os dias com o preconceito. “Hoje a realidade é a discriminação. Toda hora, a cada minuto, a cada segundo, desde a hora em que você coloca o pé aqui fora [do barraco construído às margens de uma rua] e quando você está ali dentro”. 

Barraco construído por Rogélio em Curitiba. (Foto: Reprodução/Grupo RIC)

Dependentes químicos se concentram em algumas regiões específicas da cidade. Entre elas, nas proximidades do Viaduto do Capanema, no bairro Cristo Rei, onde ficam pelas calçadas e pelos sinais. 

Foi ali que os jornalistas encontraram Gustavo Serra, educador físico. Sentado no chão nas imediações do Mercado Municipal, o homem de 36 anos conta que é natural de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, e dava aulas em academias antes de se tornar um dependente químico

“Começou com a bebida, depois veio a cocaína e daí, depois, veio o crack porque a cocaína já não estava mais me deixando chapado”,

explica. 

Ele não tem um barraco como Rogélio, dorme cada um dia em um lugar diferente e passa suas horas sempre em busca de drogas

“Tem dias que eu fico na fissura, que eu não consigo usar nada. Está complicado para catar os recicláveis também, é muito catador, muito carrinheiro. O pessoal ajuda pouco também, tem pessoas que doam um dinheiro para a gente. A gente sempre fala que é para comida, a gente come, mas a maioria é para o crack. A gente jamais vai falar que é para usar pedra, crack, para o vídeo. Então, ou a gente vai roubar ou a gente vai pedir ou a gente vai catar recicláveis, são esses três caminhos que você tem na rua”,

relata sobre como faz para sobreviver. 

Os pais de Gustavo são idosos e não têm notícias dele há meses. “Por mais que a gente esteja numa situação dessas, eles se preocupam. Eu me preocupo com eles também. Só que quando você está num caminho desses parece que tem alguma coisa que te puxa, não deixa você ir embora. Não deixa você voltar para casa. Esse mundo do crack é bem complicado”, finaliza com os olhos cheios de lágrimas. 

A dependência química é uma doença que atinge todos os membros da família de um viciado e destrói laços. Enquanto o dependente sofre pela falta da droga, seus familiares padecem pela dor de ver uma pessoa amada trocar sua própria vida por substâncias que o escravizam. 

A aposentada Iraci dos Santos está do outro lado da história, mãe de Jefferson Santos, de 30 anos, há quatro meses ela anda pelas ruas da Grande Curitiba em busca do filho que fugiu de casa. 

“Eu venho de ônibus, desço no terminal e saio de rua em rua procurando. Passo nas casas, nas distribuidoras, perguntando se alguém conhece, se alguém viu. Fui para o centro de Curitiba, no viaduto Capanema, que falaram que lá fica muito pessoal, mas eu creio que ele não ia chegar ao ponto assim porque ele era trabalhador. Se falar para mim ‘encontraram alguém morto, sem identificação’. Eu vou procurar, vou lá ver se não é meu filho que está lá morto. Eu não vou desistir até encontrar”,

explica. 

Iraci conta que o vício fez Jefferson abandonar duas filhas pequenas: “Ela ligava todo dia e falava: ‘Vovó cadê meu pai? Quero falar com meu pai. Mas porque meu pai não fala comigo’. Aí, eu falava: ‘O papai tá viajando’”.

Assista à reportagem completa: