Tsunami no Brasil? especialistas explicam a possibilidade do fenômeno atingir o país

Publicado em 17 set 2021, às 11h29. Atualizado em: 21 set 2021 às 17h20.

Nesta quinta-feira (16) o Brasil recebeu informações de que um vulcão nas Ilhas Canárias entrou em sinal amarelo de erupção e pode causar um tsunami no Brasil. As autoridades espanholas informaram que há risco de erupção do vulcão Cumbre Vieja, que fica localizado na ilha de La Palma, na costa do continente africano.

Segundo o Governo de Canarias, o comitê cientifico de Pelvoca mantém o alerta amarelo apesar da diminuição da atividade no vulcão Cumbre Vieja. De acordo com o comitê, a diminuição pode ser temporária e não implica necessariamente na interrupção da reativação vulcânica.

O Plano de Emergência Vulcânica das Ilhas Canárias (PEVOLCA) estabelece um semáforo vulcânico como sistema de alerta à população baseado em quatro cores dependendo do risco: verde, amarelo, laranja e vermelho. Em amarelo, são intensificadas as informações à população, as medidas de vigilância e monitoramento da atividade vulcânica e sísmica.

É possível o Brasil ser atingido por um tsunami?

O comitê científico também se pronunciou sobre a notícia de um possível tsunami, e destacou que não há dados que sustentem essa hipótese e que ela carece de embasamento comprovado científico. O professor Eduardo Salamuni, do setor de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Revelou em entrevista exclusiva ao RIC Mais, que se trata de um evento raríssimo.

“Um tsunami no Oceano Atlântico é um evento raríssimo pois os processos de tectônica global, ou seja, dentro das placas tectônicas não são típicos para este tipo de evento. Porém, existe a possibilidade, não diretamente ligada aos terremotos ou manifestações vulcânicas, mas sim a um processo de colapso de grande quantidade de rocha em direção ao mar. Esse seria o caso aventado na Ilha La Palma.”

afirmou Eduardo Salamuni

Salamuni também falou como é a atividade do vulcão em questão. De acordo com ele as características atuais que o vulcão vem mostrando, sugerem a eminência de erupção.

Ali, a cadeia de vulcões denominada de Cumbre Vieja tem atividade sazonal, porém pode ser considerada em atividade. Registraram-se desde o início deste mês milhares de sismos de pequena magnitude no domínio da cadeia Cumbre Vieja, também houve mudança na topografia. Essas características são típicas de um vulcão prestes a ter erupção. Além disso, os registros da profundidade dos sismos demonstram que estão cada vez mais rasos e esta também é uma característica da eminência de erupção.

Segundo o especialista, a possibilidade de ocorrer um evento catastrófico existe, mas a probabilidade é baixa.. Pois, as erupções locais em geral não causam maiores danos e são normais para aquele local do ponto de vista da característica geológica da ilha. Todavia, caso esta erupção tenha efeitos explosivos, o que não improvável, ela poderia colapsar o lado ocidental sul da ilha, levando uma grande quantidade de massa rochosa invadir o espaço marinho, o que provocaria o deslocamento da massa de água correspondente. Nesse caso surgiriam ondas que, ao chegar na costa leste das américas (norte, central e sul) criariam o tsunami invasivo.

“Essa hipótese não é descartada e, pelo contrário, tem sido estudada de forma bem detalhada pela geofísica (ramos conjuntos das ciências geológicas e física) inclusive com modelos matemáticos.”

Já o professor Aderson Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, em entrevista ao portal R7, explicou que as atividades vulcânicas nessa região são comuns e que o nível de alerta atual não é suficiente para causar preocupação. Ele ainda afirmou que para chegar ao Brasil, o tsunami teria que ser de grandes proporções. “A atividade vulcânica teria que ser excepcional para derrubar uma parte da ilha e provocar um deslizamento gigantesco em relação ao mar. Se isso acontecesse, poderia haver um tsunami”.

Quais as possibilidades do país enfrentar desastres naturais?

O Brasil geograficamente é privilegiado e não sofre com desastres naturais como furacões, tsunamis e terremotos. Contudo, o país já enfrentou alguns desastres ambientais, como:

  • Vazamento de óleo do petroleiro Tarik Iba Ziyad na Baía de Guanabara (1975);
  • Vale da Morte em Cubatão (1980);
  • Incêndio na Vila de Socó em Cubatão (1984);
  • Acidente com césio-137 em Goiânia (1987);
  • Vazamento de óleo na Baía de Guanabara (2000);
  • Vazamento de óleo nos Rios Barigui e Iguaçu no Paraná (2000);
  • Naufrágio da plataforma P-36 na Bacia de Campos (2001);
  • Rompimento da barragem em Cataguases (2003);
  • Rompimento de barragem Bom Jardim em Miraí (2007);
  • Vazamento de óleo na Bacia de Campos (2011);
  • Incêndio na Ultracargo no Porto de Santos (2015);
  • Rompimento da barragem do Fundão em Mariana (2015);
  • Rompimento da barragem Mina do Feijão em Brumadinho (2019);
  • Derrame de óleo no nordeste (2019).

Contudo, como explicou o especialista, há a possibilidade de um tsunami. Em função disso, o professor afirma que é preciso de um plano contingência para evitar uma tragédia.

Como existe esta probabilidade, para que uma tragédia humana sem precedentes não se abata sobre, principalmente, o litoral norte e nordestino e, em parte do sul e sudeste brasileiro, é obrigatório, doravante que todos os estados litorâneos brasileiros instituam um plano de contingência: (a) necessário indicar um grupo de especialistas – duas ou três pessoas – que tenham a incumbência oficial de monitorar a situação. Podem estar dentro das universidades, por exemplo, sem gerar custos de salários, apenas de financiamento de projetos; (b) necessário criar um sistema de alerta público, que hoje em dia é muito fácil devido a comunicação via redes sociais e de informação pela imprensa; (c) criar planos de contingência caso aconteça alerta de tsunami: indicação de rota de fuga, definição ordenada de saída via trânsito nas estradas de acesso às saídas das cidades, organização de transporte para quem não possui veículos próprios, etc.

O professor ainda explica que na verdade o país enfrenta desastres naturais, mas em escalas regionais. como a estiagem prolongada.

“Nosso problema maior será em relação, mesmo, ao regime desregulado de chuvas. O que a mudança climática está provocando em um país como o Brasil são eventos climáticos agudos localmente catastróficos: seca prolongada (redução de água nos reservatórios, estiagem na lavoura); chuvas torrenciais (leia-se enchentes e deslizamento de encostas); intensas chuvas de granizo (destruição de equipamentos urbanos e lavoura, por exemplo); ressacas devido erosão marinha.”

De acordo com Salamuni, as mudanças climáticas estão acontecendo e há necessidade urgente de cada núcleo social (distrito, município, cidade) criar defesas locais para o enfrentamento destes eventos climáticos agudos. Segundo o especialista, é importante ter um mapa de risco de cada município onde os locais de possíveis enchentes ou deslizamento ocorram. De acordo com Salamuni, esses mapeamentos são relativamente baratos hoje em dia: dentro de orçamento municipal de Curitiba, por exemplo isso não chegaria, sem exagero, a 0,0001% do orçamento anual.