São Paulo, 23 – A companhia de sementes e agroquímicos Syngenta anunciou, na terça-feira, 22, um programa para recuperar 1 milhão de hectares degradados no cerrado brasileiro nos próximos cinco anos. O projeto, chamado Reverte, será concretizado em parceria com a ONG The Nature Conservancy (TNC). O investimento integra um plano global – serão US$ 2 bilhões que a Syngenta Internacional aplicará ao longo dos próximos cinco anos em programas de sustentabilidade “para ajudar os agricultores a se preparar e enfrentar as crescentes ameaças causadas pelas mudanças climáticas”.
De acordo com nota da companhia – que agora pertence à estatal Chemchina -, a iniciativa brasileira consistirá em práticas agronômicas sustentáveis, ferramentas financeiras e protocolos sobre o uso de insumos (de fertilizantes e sementes até maquinário e produtos de produção de cultivos).
O CEO global da Syngenta, Erik Fyrwald, disse, em comunicado divulgado para a imprensa, que o aporte em pesquisa e desenvolvimento para a agricultura sustentável será acompanhado pela meta da companhia de reduzir pela metade a emissão de carbono das suas operações até 2030. “A agricultura está agora na linha de frente dos esforços globais para enfrentar a mudança climática”, afirmou, no documento. “A Syngenta tem o compromisso de acelerar nossa inovação para encontrar soluções melhores e cada vez mais seguras para enfrentar o desafio coletivo da mudança climática e da perda da biodiversidade”, acrescentou.
No âmbito do Reverte, projeto lançado especificamente para o Brasil, a ideia da empresa é contribuir para que produtores rurais recuperem pastos degradados para a agricultura, em vez de abrir novas áreas, que obrigaria ao desmatamento. O programa faz parte da nova meta de sustentabilidade da empresa, anunciada em abril, que consiste em oferecer pelo menos dois “avanços tecnológicos disruptivos” (como são chamadas as tecnologias inovadoras) ao mercado por ano voltadas à sustentabilidade, embora não especifique, na nota, quais seriam essas tecnologias.
Num primeiro momento, que deve começar em 2020, a Syngenta espera recuperar 30 mil hectares de pastagens degradadas em Mato Grosso, Goiás e Maranhão, lançando mão de sistemas integrados de produção. Atualmente, o sistema mais utilizado no País e desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que tem contribuído para recuperar áreas degradadas e reduzir as emissões de gases do efeito estufa, auxiliando o País no cumprimento da sua agenda climática dentro do Acordo de Paris.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 15 milhões de hectares no Brasil já foram recuperados com essa tecnologia e suas variáveis – integração lavoura-pasto (ILP); integração lavoura-floresta (ILF), além da ILPF.
Ainda conforme a Syngenta, um dos principais gargalos para recuperação de áreas degradadas é falta de crédito ao produtor. Para tanto, o Reverte vai oferecer, para os produtores parceiros, um sistema próprio de financiamento para a recuperação das terras. “O modelo de financiamento que a empresa vai lançar é de fato um avanço disruptivo”, reforçou, em nota, o líder de Negócio de Sementes da Syngenta no Brasil, André Franco.
Franco acrescenta que o Reverte trará sementes adequadas para obter os melhores resultados nas condições de solos degradados do cerrado brasileiro. A Syngenta estima que cerca de 18 milhões de hectares de áreas do cerrado encontram-se em algum estágio de degradação. Com a iniciativa, a companhia pretende auxiliar também a redução das emissões de gases do efeito estufa. “O Brasil incluiu na sua agenda de clima compromissos como a recuperação de pastagens degradadas e a ampliação da área com sistemas integrados de produção, que, juntos somam 20 milhões de hectares até 2030”, comentou a companhia em nota.
Plano ABC
Hoje, o produtor brasileiro que pretende recuperar áreas degradadas tem à disposição as linhas do Plano ABC – Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, programa governamental em vigor desde 2010.
No atual Plano Safra 2019/2020, o total de recursos é de R$ 2,096 bilhões, com juros entre 5,25% e 7% ao ano e valor máximo por beneficiário de R$ 5 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura. Outra possibilidade é o sistema de recuperação de áreas degradadas se “autofinanciar”.
Na metodologia preconizada pela Embrapa, o dinheiro vem da própria lavoura, semeada na mesma área que vai virar pasto.