No meio de um grupo de pessoas que protesta em frente à Catedral, um personagem passa despercebido. Sentado próximo a faixas e cartazes, a figura de Seu Sebastião torna-se invisível perante os manifestantes. O senhor que aparenta 50 e poucos anos não sabe o que é computador e nunca ouviu falar em Facebook. Sucesso para ele é garantir as refeições durante o dia e um local seguro para dormir à noite. As poucas coisas que possui, um cobertor e algumas roupas velhas, prefere manter em lugar secreto, muito bem escondido.

Vivendo há 15 anos nas ruas de Curitiba, Sebastião não tem família, nunca casou ou teve filhos. A única irmã com quem ainda mantém algum tipo de contato vive na CIC e não permite que o parente passe mais do que uma noite em sua casa. “Ela diz que eu posso visitar, mas não pra ficar”, sorri pela própria falta de sorte.

Trabalhador rural, natural de Santo Antônio da Platina, Sebastião veio até a capital para fazer um tratamento contra os ataques epiléticos que tem com frequência. Não voltou mais. As marcas são visíveis por todo o corpo, em razão das seguidas quedas que sofreu. Só consegue andar com o apoio de uma bengala. Garante que não é viciado em drogas e tampouco faz uso da bebida. A razão para estar na rua é simples: não tem casa. O homem é avesso às amizades e prefere não se misturar. “Tem muita gente ruim perambulando por aí”, garante.

Após terminar a refeição, Seu Sebastião retorna para o ponto inicial da conversa. Sua pele não é clara e os olhos não são azuis. Do contrário, quem sabe, teria a sorte de ser visto e lembrado em meio à multidão.

Abrigo oficial

A FAS estima que, atualmente, a população de rua em Curitiba é de pouco mais de 3 mil pessoas. A média é de 120 atendimentos diários. Além de fornecer abrigo, a Fundação dispõe ainda de um centro de saúde para atender somente os desabrigados. Porém, nem todas as pessoas aceitam o tratamento. É o que diz a coordenadora da Central de Resgate Social Luciana Kusman. Segundo ela, o principal motivo para a recusa seria a imposição de regras de convívio social. “Para os mendigos, é preferível viver nas ruas do que se acostumar às normas de uma instituição de abrigo”, conclui.