A aprovação do novo marco regulatório do setor do saneamento básico cria oportunidades para investidores estrangeiros de infraestrutura, mas ainda é preciso acompanhar a implementação das novas regras para a prestação dos serviços de água e esgoto, disse nesta sexta-feira Thiago Silva, representante no Brasil para a área de infraestrutura do Ontario Teacher’s Pension Plan (OTPP), fundo de pensão do Canadá que tem 200 bilhões de dólares canadenses sob gestão.

“A lei (do novo marco do saneamento) acabou de ser aprovada. A implementação vai levar um tempo, e os detalhes são importantes”, afirmou o executivo nesta sexta-feira durante o último de uma série de seminários online sobre saneamento que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) promoveu ao longo desta semana.

Silva foi cauteloso ao tratar das opções do OTPP para investir no setor de saneamento no País. Segundo o executivo, o fundo tem mandato para investir apenas em empresas privadas e seu modelo de negócios passa sempre pelo investimento em participações acionárias relevantes em operadores já estabelecidos nos mercados, com o objetivo de participar na gestão e influir na governança. Além disso, o tíquete médio do “cheque” de investimento do OTPP globalmente é de cerca de US$ 500 milhões, ou seja, há poucas empresas com porte suficiente para receber investimento tão grande.

Diante dessa estratégia, está descartado o investimento em ações de estatais listadas, como a Sabesp, e, dificilmente, a OTPP entraria na formação de novos consórcios para operar concessões pontuais, associado ou não com operadores tradicionais, nacionais ou estrangeiros. Atualmente, o fundo canadense investe, no setor de infraestrutura do Brasil, em geração e transmissão de energia elétrica.

Questionado, Silva não descartou que uma opção para o OTPP aproveitar oportunidades em concessões de água e esgoto poderia passar pela aposta, por parte das empresas do setor elétrico nas quais já possui participação, em novos projetos de saneamento.

Ao analisar o cenário macroeconômico, Silva reconheceu que o interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil tem se mantido em alta. As concessões em infraestrutura podem, inclusive, atrair novos investidores estrangeiros, tanto financeiros quanto operadores que ainda não atuam no mercado nacional, como ocorreu no setor de aeroportos.

Apesar do interesse dos estrangeiros e da disponibilidade de recursos mundo afora atrás de oportunidades de investimento de longo prazo em infraestrutura, Silva destacou que os aportes com capital próprio não bastam para dar conta da necessidade de investimentos na universalização dos serviços de água e esgoto. Para isso, será preciso reforçar as fontes de financiamento de longo prazo no mercado local.