O reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Franco Bartolacci, afirmou ontem que o novo ministro da Educação do Brasil, Carlos Alberto Decotelli, não obteve o título de doutor na instituição, como consta em seu currículo. Ao Estadão, o reitor disse que o ministro não cumpriu as etapas necessárias. “Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar”, afirmou Bartolacci.
Mais cedo, no Twitter, Bartolacci disse que era preciso “esclarecer” uma publicação feita na quinta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro. Nela, menciona que Decotelli é “doutor em Administração pela Universidade de Rosario”. “Informo a nomeação do Professor Carlos Alberto Decotelli da Silva para o cargo de @MEC_Comunicacao. Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e Pós-Doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, escreveu o presidente.
Procurado pelo Estadão, Decotelli reafirmou ter o título e enviou à reportagem uma cópia de um certificado da universidade argentina. O documento é datado de 7 de fevereiro de 2009 e diz que o Decotelli “cursou todas as disciplinas do doutorado em Administração”. “É verdade. Pergunte lá para o reitor”, limitou-se a dizer Decotelli. Questionado se ele apresentou a tese, necessária para a conclusão do curso, o ministro não respondeu.
O MEC informou que “o ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva concluiu, em fevereiro de 2009, todos os créditos do doutorado em Administração pela Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina”. Na lista de títulos de Decotelli também consta pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. Também procurada, a instituição de ensino alemã não respondeu ontem. Pelas regras brasileiras, se uma pessoa não apresentou tese, não pode ser considerada doutor em uma universidade. Já o preenchimento do currículo Lattes é feito pelo profissional, de forma autodeclaratória.
Outros casos. Não é a primeira vez que uma autoridade tem o currículo contestado. Em 2009, a então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff precisou corrigir informações de que havia feito doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela havia feito apenas algumas disciplinas, sem ter chegado ao fim do curso.
No ano passado, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), também precisou explicar por que incluiu um doutorado em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF), com um período de intercâmbio em Harvard, nos Estados Unidos. Witzel nunca cursou a universidade americana. Após questionamentos, Witzel afirmou que incluiu a menção a Harvard no currículo porque tinha a intenção de estudar lá. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.