Segundo a Prefeitura de Curitiba, já esgotaram no último dia 31 os 5 mil cupons distribuídos pelo Projeto Casa Cheia, que dá direito a desconto de R$ 10,00 por espetáculo das companhias curitibanas no Fringe, mostra paralela ao Festival de Teatro de Curitiba (FTC). Cada cidadão podia retirar até 4 cupons.

A ideia de promover o acesso aos espetáculos locais, se não nasceu foi incrementada a partir de reuniões promovidas pela Fundação Cultural com artistas e principalmente donos de espaços cênicos, desde o início do ano. Muitos produtores manifestaram descontentamentos pontuais em relação à direção do FTC, deram ideias e possíveis soluções.  A atual diretoria da Fundação Cultural tem se mostrado disposta a construir uma gestão a partir do diálogo.

Um ponto comum nas reuniões foi sobre o devido espaço na mostra principal para espetáculos locais. Já está provado há muito tempo que a produção local tem grandes condições de participar da mesma (e de receber devidamente). Artistas como o iluminador Beto Bruel, a indicada ao prêmio Shell 2013 Rosana Stavis, a Cia do Abração, a Cia dos Palhaços, a CiaSenhas ou a Cia Ave Lola, os diretores Márcio Abreu e Edson Bueno (fica até chato citar apenas alguns), se situam como destaques nacionais, premiados em Festivais e convidados a participar de importantes projetos de cultura. Iniciativas como o Núcleo de Dramaturgia do SESI em Curitiba mostram o quanto a cidade é reconhecida e tem produzido arte de alta qualidade. Isso fora o grande número de artistas locais que passaram a ser reconhecidos pelo grande público a partir da televisão e do cinema.

Lembro de algumas reportagens enfatizando como nosso país tem perdido cientistas para outros países, à medida que o governo brasileiro não investe em mantê-los por aqui com salários dignos e condições apropriadas para que o trabalho se desenvolva. Assim, perdemos milhões. Penso que, de igual maneira, perdemos grandes educadores e artistas para Rio, São Paulo e para o exterior. Eles sabem o que é bom.

É certo que o Festival deste ano traz o nome de Márcio Abreu, de Marino Jr e montagens curitibanas. De seu lado, o produtor Leandro Knopfholz defende total liberdade, como empresário, de sua curadoria escolher o que deve ou não participar da mostra. Mas o Festival não é um evento apenas particular, conta com apoio do poder público em sua produção. Se a discussão entre público e privado está longe de acabar, ao menos a Fundação Cultural mostra iniciativa de melhorar o diálogo entre a classe artística e a produção do FTC.

Neste sentido tenho falado, há alguns anos, na necessidade de retornarem os bons cursos, as palestras e os espaços para debate entre os artistas. Na necessidade de um espaço de encontro entre os profissionais de todo o país – seja promovido pelo poder público ou por iniciativa particular, seja um espaço forma ou informal. E em uma política – junto à Secretaria de Educação – de incluir os grupos participantes em atividades junto a escolas, integrando ainda mais a Arte à Educação.

Se o ensino da arte de forma contextualista – desenvolvendo capacidades – timidamente entra nas escolas, a arte essencialista (os termos são usados por Ingrid Koudela), ou seja, a arte livre, está muito longe do cotidiano de alunos. O Festival é um grande momento em que se poderia “estartar” isso e tenho certeza de que uma imensa quantidade de grupos gostaria de participar. Mas acredito que, aos poucos, no que se cumpram pelo menos parte das promessas de campanha da atual gestão em relação à Educação, as coisas vão melhorar.

O Projeto Casa Cheia com certeza há de ser melhorado e isso será a partir de avaliações de todos, mas é  iniciativa que merece elogio e que se somará a outras a partir do próximo ano.  “Os cupons tiveram uma ótima aceitação. O sucesso serve de estímulo para já pensarmos em novos desafios”, diz o coordenador de Teatro da Fundação, Clóvis Severo. Ele afirmou que ainda irá conversar com as companhias curitibanas, mas adianta que a repercussão entre elas tem sido boa. “Receberam muito bem a ideia. Opiniões complementares serão, é claro, consideradas para as próximas edições”, completa.

“Estamos estabelecendo uma nova dinâmica entre o evento e a produção cênica da cidade, que continuará crescendo”, explica o presidente da Fundação Cultural, Marcos Cordiolli. “É uma oportunidade de prestigiarmos diversas apresentações de qualidade e com preços acessíveis. Todos têm a ganhar”, destaca Leandro Knopfholz.

Esse é o pensamento: que todos ganhemos e que todos possamos ser generosos.