A Prefeitura São José dos Pinhais leva capacitação ao sistema prisional através do curso de Inclusão Digital, oferecido a 55 detentos da Casa de Custódia, presídio estadual de segurança, localizado no bairro Guatupê. O curso iniciado nessa quarta-feira (20) terá duração de dois meses.
O diretor da Casa de Custódia, João Carlos Ribeiro, explicou que alguns dos detentos que já possuem conhecimento de informática serão monitores dos demais. As aulas são monitoradas pelos agentes penitenciários e acontecem em grupos alternados de cerca de 13 presos por turma. Neste início, foi dada preferência a presos oriundos de São José dos Pinhais ou que tenha família no município.
Para A.T.N., 50 anos, que está preso há sete anos, aprender algo novo em um curso é no mínimo estimulante para a sua saúde mental. “Penso que devo sair logo daqui, pois nenhum dos crimes de que fui acusado foram comprovados. Mas é a primeira vez que vejo uma coisa boa assim como esse curso acontecendo para nós”, afirmou o detento, que antes de ser preso informou que trabalhava em manutenção de máquinas para o refino de combustível.
Já R.M, de 32 anos, que por ter curso superior incompleto na área de administração atua no curso como monitor, disse que se sente gratificado pela oportunidade. “Acho justo estar aqui. Era usuário de drogas, deixei tudo de lado e cometi roubos por três vezes. Fui flagrado e já estou aqui há 10 meses. Mas devo sair dentro de mais oito meses e enquanto puder, quero ensinar essas pessoas que têm situação mais complicada que a minha”.
R.M relatou que trabalhava e até tinha um bom salário, situação bem diferente dos demais. “A maioria aqui não tem sequer ensino fundamental. Eles precisam realmente de uma atenção para que o tempo na prisão sirva para alguma coisa, alguma melhora em suas vidas”, reforça.
De acordo com o secretário municipal de Trabalho, Emprego e Economia Solidária, Adilson Stuzata, outros cursos já existentes no município devem ser implantados na Casa de Custódia. O próximo deles estará ligado ao programa Economia Solidária, e será adaptado para que as famílias do presos também sejam envolvidas no processo.
“Começamos com Inclusão Digital, por sabermos que é um conhecimento básico e necessário para todos os tipos de profissão. Mas queremos trazer para vocês outros cursos, para que quando saírem daqui, tenham oportunidade de trabalhar e conviver bem em sociedade e com seus familiares”, disse Stuzata aos alunos, durante ato de abertura do curso.
O curso começou a tomar corpo no início de junho, quando representantes das secretarias municipais de Segurança, Assistência Social, Trabalho, Indústria, Comércio e Turismo e Educação foram recebidos pelo diretor do Departamento Penitenciário do Estado, Maurício Kuehne, e propuseram que por meio de ações integradas sejam oferecidos cursos de formação e profissionalizantes, a serem gradativamente implantados na Casa de Custódia.
Chance de nova vida
O diretor da Casa de Custódia ressalta os benefícios que os presos terão a partir do acesso aos cursos oferecidos pela Prefeitura. Com a experiência de 11 anos à frente da instituição e 30 anos de atuação no sistema prisional, Ribeiro acredita que só a oferta de oportunidade permite ao preso se tornar melhor, pois do contrário já está sem perspectivas. “É claro que não podemos garantir 100% que uma pessoa passe por uma formação e siga esse caminho quando sair daqui. Pode ser que algumas optem por continuar no crime. Mas que não seja por falta de acesso. Procuramos fazer nossa parte como gestores públicos, e estamos imensamente gratos pela iniciativa da Prefeitura de São José dos Pinhais”, agradece o diretor. Ele disse que até mesmo as famílias passam a resgatar o vínculo com o preso quando sabem que ele está envolvido com algo edificante.
A Casa de Custódia não contava com local adequado para realizar os cursos, mas providenciou reformas em curto prazo em alguns cômodos e, conforme o diretor, a partir do pontapé inicial através da parceria com a prefeitura, tem planos de ampliar a prática. Ele disse que vai pedir ao governo do Estado para que construa um barracão em terreno ao lado, para trabalhos semelhantes ao que já é praticado em outras unidades, a exemplo de Guarapuava, revertendo inclusive a renda para as famílias dos presos.