Marca de bijuteria ecológica nasceu da luta contra síndrome do pânico
Publicado em 1 nov 2018, às 00h00.
Marca de bijuteria ecológica nasceu da luta contra síndrome do pânico
Produzir bijuterias ecológicas de forma sustentável foi a Escolha Verde de uma profissional no Rio de Janeiro. E é um pouco dessa trajetória que vamos conhecer a partir de agora.
O que você faz quando está meio pra baixo, sem vontade de olhar a vida em volta? Pois é, minha conversa hoje é com quem um dia já passou por essa sensação de desânimo geral, desencantamento mesmo. Eu já tive dessas experiências e, muito provavelmente, você também. E a reação que temos diante daquele peso sobre os ombros diz muito, pode definir nosso futuro. Gitanaci Vanderlei Coelho, a Gita, tem muito a nos ensinar sobre isso. Ela convive com a Síndrome do Pânico há mais de uma década e soube transformar uma tonelada de dores, que a esmagava contra o chão, num propósito de vida. Como ela se levantou? Trabalhando.
A Gita é a mulher por trás da marca Feito Por Gita, empreendimento carioca que neste ano ganhou as redes sociais com a proposta de levar questionamento ambiental para o mundo das bijuterias. As peças são criadas a partir do olhar dessa psicóloga de formação, mas que nunca atuou na área, e que trabalha na captação de recursos para uma organização ambientalista de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, a Onda Verde. Sementes e folhas caídas pelo chão, peças descartadas pelas amigas e até cápsulas de café vazias nas mãos da Gita ganham beleza e glamour. Recentemente ela criou uma linha de peças modulares para venda exclusiva para o Projeto Cruci, uma iniciativa paulista voltada para o consumo consciente e autoral. Outra hora falo mais deles por aqui.
No universo Gita, o negócio sustentável começou com a necessidade de driblar a ansiedade, o pensamento repetitivo. Foi depois de uma consulta com a terapeuta que ela entrou numa loja, comprou matéria-prima e começou a juntar pequenas peças de metal e miçanga. A encomenda de uma amiga a incentivou a continuar e descobrir os novos materiais. “A sustentabilidade surgiu nas minhas criações a partir da vivência na ong. Lá trabalhamos com educação ambiental, coleta seletiva de resíduos, plantio de mudas. Num passeio a Gramado, na serra gaúcha, recolhi um cascalho que virou um cordão lindo.”
Conheça um pouco mais o pensamento da Gita na entrevista abaixo.
Em que estágio está a sua trajetória com a Feito Por Gita?
Meu esforço atual é na realização do meu sonho. A criação e divulgação da minha marca. “Feito por Gita” acho que retrata bem os meus passos até aqui. Faço tudo sozinha. Compro as pecas. Pesquiso materiais. Crio. Vendo. Faço cursos em busca de conhecimentos que me possibilitem chegar aonde eu quero, que é ter uma marca conhecida pelo viés sustentável e que me possibilite viver com os lucros dela. Não tenho pretensão de vender grandes quantidades porque gosto da exclusividade da minha criatividade. Serão sempre poucas peças do mesmo modelo. E com materiais diferentes.
É difícil empreender sozinha?
É, mas entre erros e acertos eu chego lá. Estou me capacitando pra isso. Veja, estou conversando com você num sábado de sol no Rio de Janeiro e tem muita gente indo à praia. Mas eu estou no ônibus a caminho do curso de ourivesaria. Também já estudei gestão financeira e e-comerce para moda. O mercado é muito concorrido. Tem muita gente fazendo bijuterias. Poucas pessoas fazem arte. Nessa minha tentativa de buscar um nicho para minha produção também já me frustrei pois ainda existe certo preconceito com a reciclagem na moda. Há casos de pessoas que chegam para conhecer alguma peça, acham bonita, querem levar, mas quando sabem que é feita com material reaproveitado, desistem de comprar. Nada que me faça desistir.
São 13 anos com foco no autoconhecimento. O que mudou no seu comportamento?
Mantenho meu compromisso em conhecer meu corpo, limites, desejos. Hoje faço tudo que me deixa feliz e realizada. Não me preocupo mais com o que os outros pensam ou querem ou esperam que eu faça. Não me preocupo em satisfazer as expectativas do outro.
Por que falar dessa dor interna num momento em que está focada no trabalho?
Dentro de mim sempre tive o desejo de compartilhar a minha história porque sei que tem muita gente passando pelo que passei. Hoje me sinto vitoriosa por conseguir ter encontrado um caminho. Sabe, não existe cura para essa dor da alma… Existe a administração dos seus limites. Respeito por nós mesmos. Não tomo mais remédios. Administro minha ansiedade com yoga, atividade física regular e amizade. E principalmente com o meu universo #feitoporgita. Respeito aos meus limites…isso é libertador!
A partir da sua experiência, o que você pode ensinar para quem passa por dores como depressão ou pânico?
O que posso dizer para as pessoas que passam por isso é que a medicação e a terapia são fundamentais. Mas junto com elas precisa ter o desejo profundo pela busca do autoconhecimento. O reconhecimento dos seus limites. Eu tive a sorte de fazer o meu tratamento com uma terapeuta cognitiva comportamental, que ao fazer uma pergunta simples, me deu a oportunidade de achar dentro de mim, o meu potencial criador. Você tem algum dom para trabalhos manuais? Não. Foi a minha resposta. Até entrar numa loja de montagem de peças para bijuterias. Um novo mundo se abriu para mim. Um mundo colorido. Onde eu tinha o poder de criar. Meu cérebro partiu para outro caminho e eu consegui olhar para um mundo além do meu corpo. O trabalho manual tirou o meu foco da ansiedade.