Por Padraic Halpin
DUBLIN (Reuters) – O acordo comercial preliminar entre União Europeia e Mercosul colocou o governo da Irlanda sob intensa pressão de agricultores e partidos de oposição preocupados com o impacto sobre a indústria de carne bovina do país.
O Mercosul firmou seu primeiro grande pacto na sexta-feira com o acordo com a UE, mas o incentivo em potencial aos exportadores sul-americanos de carne bovina revoltou o amplo setor de carne bovina irlandês, já pressionado pela desfiliação britânica do bloco.
O acordo com o Mercosul também enfrenta resistência da maior potência agrícola da UE, a França.
A associação dos agropecuaristas irlandeses disse que o acordo dizimará o mercado de carne bovina do país ao permitir a entrada de cortes sul-americanos mais baratos no bloco. O presidente nacional de rebanhos do grupo, Angus Woods, disse que o efeito é potencialmente ainda pior do que o do Brexit.
Os temores dos agropecuaristas dominaram as manchetes dos jornais e os trabalhos do Parlamento quando este se reuniu pela primeira vez na semana nesta terça-feira. O principal partido de oposição, Fianna Fail, disse que o acordo será o “dobre fúnebre” da indústria.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse que o governo realizará uma avaliação econômica completa sobre o impacto da íntegra do acordo sobre a Irlanda, acrescentando que votará contra ele se os riscos superarem os benefícios.
Sua fala veio após uma intervenção do ministro da Agricultura, Michael Creed, que disse que Dublin não está sozinha no questionamento, citando França, Bélgica e Polônia como países aos quais a Irlanda se uniu anteriormente para expressar preocupações.
“O que temos é uma Comissão em suas últimas horas fechando um acordo que nenhum Estado-membro ou Parlamento nacional aceitou. É um acordo ruim, não faz sentido dizer outra coisa, é um acordo ruim para o setor de carne bovina”, disse Creed à emissora nacional RTE.
Sendo um dos menores membros do bloco de 28 nações, a Irlanda precisaria que outros membros formassem uma minoria suficiente para um bloqueio se quisesse rejeitar o pacto, já que futuramente a ratificação será submetida a uma votação por maioria qualificada.
Embora o presidente francês, Emmanuel Macron, tenha dito no sábado que o esboço de acordo é “bom” e que atendeu as principais exigências francesas, seu ministro das Relações Exteriores disse nesta terça-feira que ainda se verá se ele atendeu tais exigências.
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC