O país vive um período de grande mobilização social, inédito na nossa história recente e que começou há pouco mais de dez dias, por causa do anúncio de reajustes de tarifas do transporte coletivo nas grandes cidades. As manifestações que se espalharam pelo território nacional e chegaram ao Paraná estão cercadas pela mais absoluta legitimidade. Afinal, vivenciamos a plena normalidade constitucional e democrática.
Os protestos, que ganharam as ruas, merecem reflexão. Com certeza representam algo mais do que a luta por tarifas mais baixas para os transportes públicos e os gastos do governo federal com estádios de futebol para a Copa. Trazem, sim, um sentimento latente da população e expressam o desencanto coletivo sobre temas que diariamente ganham espaço na mídia nacional: corrupção, desmandos, desperdício de recursos públicos, voracidade tributária, governos desconectados e conchavos políticos de uma classe que deseja apenas poder. São temas recorrentes, inquietantes, complexos e que causam frustração e revolta.
A partir da juventude, que deflagrou o movimento, empresários, donas de casa, estudantes, aposentados têm observado e engrossado a crescente indignação, via redes sociais e veículos de comunicação, num verdadeiro exercício de cidadania. O que endossa e valida o movimento é a ausência de partidos ou de bandeiras partidárias, como se a causa fosse de cada um e de todos, independentemente da ideologia. O que se vê nas ruas é um grande aprendizado democrático de participação pública.
É importante que a classe política e os governantes saibam decifrar o recado das ruas, que de forma pacífica e solidária com o país propõe novos rumos para as grandes questões que envolvem o exercício do poder e sua vinculação com as demandas sociais. Esta nova sociedade que surge exige mudanças, reforma política, reforma tributária e moralidade pública.
O Grupo RIC tem dedicado em suas plataformas (jornal, TV, internet e rádio) amplos espaços à participação popular, ao jornalismo comunitário e colaborativo, coerente com a sua proposta empresarial e editorial.
O foco do Grupo RIC, diante das manifestações, tem sido e continuará sendo voltado ao acesso de todo o público às informações relativas aos protestos, com isenção jornalística, mas também com intervenções críticas, com a opinião fundamentada e responsável de seus profissionais. Somos a favor da livre manifestação de expressão, mas condenamos os atos violentos, a baderna, o radicalismo sem propósito, porque não fazem parte do exercício da democracia.
O Grupo RIC acredita que, dando espaço para as legítimas manifestações da sociedade paranaense, está cumprindo com a sua missão social. Os graves acontecimentos que ganharam corpo nas ruas acendem uma luz no túnel da esperança. Indicam novos e importantes rumos para o país.
Ainda não se tem uma idéia clara dos efeitos que o recado das ruas poderá provocar. A verdade é que as mudanças só acontecerão se houver continuidade, serenidade e objetividade. Todos os brasileiros precisam entender o que foi dito nas ruas, avenidas e praças. Entidades de classe, empresários, estudantes, servidores, políticos e a sociedade civil organizada precisam incorporar o espírito público, mudando a forma de agir, colocando o interesse coletivo acima dos interesses individuais e corporativistas.
Desta forma, a sociedade sairá mais fortalecida, mais consciente, diferente, melhor e mais justa, conquistando as mudanças tão almejadas e necessárias. E a partir daí iniciar a construção de uma nação mais justa para todos os brasileiros.
Publicado originalmente no jornal Notícias Do Dia Online