O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, afastou definitivamente a possibilidade da doença da vaca louca no Paraná. O anúncio foi feito após a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) terem sido comunicadas oficialmente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre os resultados negativos de exames realizados em animal morto há dois anos por suspeita de raiva.

Como os protocolos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, recomenda que os animais mortos com suspeitas de raiva sejam submetidos a exames para detectar outras doenças inclusive a encefalopatias espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da vaca louca, esse procedimento foi seguido à risca no Paraná, afirmou o secretário. Após um período de exames, provas e contraprovas, os resultados para a doença foram divulgados oficialmente pelo Ministério da Agricultura nesta sexta-feira (07), em Brasília.

Durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (07), em Curitiba, o secretário Norberto Ortigara detalhou os procedimentos técnicos que fizeram com que o serviço oficial de defesa sanitária do Estado mantivesse o sigilo a respeito do caso. Ortigara estava acompanhando do secretário executivo do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado do Paraná (Fundepec), Ronei Volpi, pelo diretor de Defesa Agropecuária da Adapar, Adriano Riesemberg, e pelo chefe de gabinete da Adapar, Silmar Bürer.

Histórico

Segundo Ortigara, em dezembro de 2010, um bovino, com idade avançada de 13 anos, manifestou a suspeita de raiva. A proprietária do animal procurou o serviço de Defesa Sanitária da Secretaria da Agricultura, comunicando o caso. Imediatamente, a propriedade, no município de Sertanópolis, foi acompanhada pelos técnicos da Vigilância Sanitária Animal do então Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária (Defis), órgão da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.

Não foi detectada a raiva em exames realizados na época e o animal morreu em 24 horas. Conforme orientam os protocolos dos serviços de sanidade nacionais e internacionais, foi coletado material e enviado para análise no laboratório oficial do Governo do Paraná, que é o Centro de Diagnósticos Marcos Enrietti.

Os exames deram negativos e foram enviados para novas provas em laboratório oficial em Minas Gerais. Novamente os exames deram negativos, explicou Ortigara, e o mesmo material foi reenviado para o Lanagro, laboratório oficial do Ministério da Agricultura, em Recife (PE), cujos resultados também deram negativos.

Como última etapa da contraprova, o material foi enviado para o laboratório referência em saúde animal no mundo que fica na Inglaterra. O resultado comunicado às autoridades brasileiras deu positivo, mas destaca que era um caso atípico da doença, o que pode ocorrer em qualquer animal sadio no Brasil ou fora dele.

O que houve, disse Ortigara, é que o laboratório do Reino Unido constatou a existência de um caso não clássico da doença da vaca louca, em função da existência de prion – uma proteína modificada – encontrada no animal.

Segundo Ortigara, são feito muitos exames semelhantes no mundo inteiro e a existência de prion pode ocorrer em bovinos. Mas os exames constataram que o animal não morreu em decorrência disso, salientou o secretário.

Insignificante

O governo brasileiro comunicou o fato à Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), que emitiu uma nota técnica classificando o Brasil como “risco insignificante” para a existência da doença da vaca louca, que é a melhor classificação que poderia ter, afirmou Ortigara. “Não há nenhum reflexo para a cadeia alimentar no Paraná e no Brasil”, ressaltou.

Entre os procedimentos técnicos que afastam a existência da doença – assinalou o secretário – foi feita a exumação do animal em junho de 2012 que constatou a existência de alimentação a pasto no aparelho digestivo do animal. Se fosse o caso da doença EEB, não haveria esses resíduos porque o animal deixa de se alimentar muito tempo antes de morrer, explicou. Outro fato ocorrido é a idade do animal, 13 anos, e segundo protocolos internacionais essa doença se manifesta até os 7 anos de idade.

Tranquilidade

A Secretaria da Agricultura e a Adapar tranquilizam os criadores, produtores, agroindústrias que esse fato não muda em nada o status que o Brasil tem no Exterior, sem risco para a doença EEB. Segundo esses órgãos, o fato não deverá ter impactos na comercialização de produtos de origem animal já que os órgãos oficiais e internacionais de sanidade agropecuária não confirmam a existência da doença no Paraná e no Brasil. “Não há problemas na cadeia alimentar e os consumidores de carne e leite não tem nada a temer”, disse Ortigara.

Segundo Ronei Volpi, do Fundepec, que representa os produtores paranaenses, eles não estão preocupados com possíveis impactos porque a própria OIE garantiu que o caso constitui uma manifestação atípica e manteve o status livre dessa doença que é o status mais alto. Ele também afastou o risco de prejuízos financeiros para produtores e indústrias. Segundo ele, com esse comunicado da OIE dificilmente vai haver um prejuízo “e se isso ocorrer vai ser por um curtíssimo prazo e logo tudo volta ao normal”, encerrou.

Segundo Ortigara, o serviço de Defesa Sanitária do Estado foi eficiente, comunicou o fato imediatamente ao Ministério da Agricultura e seguiu os procedimentos técnicos de exames laboratoriais. Ele explicou que o serviço de sanidade agropecuária oficial do Paraná mantém medidas preventivas e rotineiras para evitar a ocorrência dessa doença, entre elas a proibição do uso de cama aviária (resíduos da avicultura) na alimentação de animais ruminantes.