O Estado de Nova York anunciou nesta quinta-feira, 6, que entrou com uma ação contra a poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) e seu líder Wayne LaPierre por fraude financeira e má conduta, com o objetivo de dissolver o grupo de lobby pró-armas conservador.
“A influência da NRA tem sido tão poderosa que a organização não foi controlada por décadas, à medida que os altos executivos desviavam milhões para o próprio bolso”, disse a procuradora-geral, Letitia James. “A NRA está cheia de fraudes e abusos, então hoje procuramos dissolver a NRA, porque nenhuma organização está acima da lei.”
Segundo a procuradora-geral, LaPierre e três outros altos funcionários da NRA usaram fundos e doações de membros por anos como seu “cofrinho pessoal” e usaram dezenas de milhões de dólares em gastos pessoais e de cúmplices em violação das leis que governam as organizações sem fins lucrativos.
Todos os quatro “basicamente saquearam seus ativos”, disse James, deixando praticamente insolvente o grupo que já foi rico e injetou milhões em campanhas políticas republicanas.
Durante décadas, a NRA representou milhões de proprietários e militantes das armas nos Estados Unidos, lutando com sucesso substancial para enfraquecer e eliminar as leis que impunham controles, usando a Segunda Emenda à Constituição – que protege o direito de portar armas – como argumento.
Em sua resposta, a NRA voltou a usar esse argumento e denunciou a demanda como “um ataque sem base” legal e “premeditado” contra a organização e as “liberdades da Segunda Emenda”.
“É uma tentativa clara de marcar pontos políticos e atacar a voz principal que se opõe à agenda de esquerda. Esta é uma tomada do poder por um oportunista político, um movimento desesperado que faz parte de uma vingança política nojenta”, afirmou a associação em um comunicado.
A organização, que já havia questionado anteriormente James por declarações contra ela, garantiu que não será “intimidada” e se defenderá.
Poder político
Na política, a NRA apoiou os candidatos que se alinharam com seus pontos de vista e criticou aqueles que apoiavam a regulamentação de armas de fogo. LaPierre, que liderou a NRA por quase três décadas, tornou-se um dos principais homens de poder sobre o assunto em Washington.
Ele teve um papel importante nas eleições de Donald Trump em 2016. Os filhos do presidente americano Eric e Donald Jr são membros e participam regularmente de eventos da NRA.
Questionado sobre o processo, Trump disse na Casa Branca que se trata de “uma coisa terrível”. “Acho que a NRA deveria se mudar para o Texas e levar uma vida muito boa e bonita”, sugeriu.
Aviões privados e safáris
James disse que LaPierre usou ilegalmente os fundos da NRA para pagar jatos particulares para levar sua família em férias de luxo nas Bahamas, e desviou milhões de dólares sem explicação por meio de uma agência de viagens.
Além disso, a NRA pagou por safáris na África e até mesmo pela associação de LaPierre em um clube de golfe, algo não previsto oficialmente.
LaPierre também aceitou presentes de luxo e viagens de fornecedores da NRA, e um pacote de retirada de US$ 17 milhões (R$ 90,8 milhões) foi concedido sem a aprovação do conselho da associação.
O processo acusa o ex-tesoureiro da NRA Wilson Phillips de se contratar como consultor da organização por US$ 1,8 milhão (R$ 9,62 milhões) e de esconder dezenas de milhões em despesas para os executivos da NRA. Entre elas, pagamentos ao contratante de relações públicas, Ackerman Queen.
Também foram acusados o conselheiro geral John Frazer e o ex-chefe de gabinete Joshua Powell.
A procuradora negou que tenha agido por motivações políticas e disse que o estado apenas forçou duas outras ONGs a fechar nos últimos anos, uma delas, a Fundação Trump.
A acusação de James ocorre no momento em que a NRA, embora enfraquecida financeiramente, deve injetar grandes quantias nas eleições gerais de novembro. (Com agências internacionais)