A volta às aulas na rede paulista tem duas grandes incógnitas: quando e como. Sobre a data, o governo estadual anunciou semana passada um plano que prevê retomar classes presenciais em 8 de setembro, se infecções e internações pela covid-19 estiverem sob controle. Para a segunda questão, colégios particulares tradicionais criam comitês, contratam consultorias e adiantam obras. Já escolas públicas têm aval para fazer mudanças, mas com uma diferença: as decisões têm de ser tomadas pensando em múltiplas realidades sociais.

O Colégio Santa Cruz, na região de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, tem desde março a colaboração de um grupo de médicos e de professores da USP. Uma equipe de enfermeiros já foi contratada para medir a temperatura de quem entra na escola.

O diretor Fabio Aidar conta que as salas estão sendo adaptadas para respeitar maior distanciamento entre carteiras e mais torneiras serão instaladas. “A expectativa no primeiro momento é que o aluno venha pelo menos uma vez por semana. Vamos definir ainda como será a frequência.” A orientação feita pelo governo estadual na semana passada é para evitar o compartilhamento de material. “Recomendamos que cada criança traga seu notebook.”

O Colégio Porto Seguro, com unidades espalhadas em regiões nobres paulistanas, conta desde o início do mês com consultoria do Hospital Albert Einstein. Um grupo de infectologistas, sanitaristas e pediatras ajuda a escola a buscar soluções. O diretor Caio Thomas explica que, no momento, a escola passa por uma transformação digital. “As 360 salas se tornarão verdadeiros estúdios para poder transmitir com qualidade a aula para quem estiver em casa.”

O empresário Mirko Hlebanja tem dois filhos no Porto Seguro, uma adolescente de 17 anos e um de 15. “Por já terem nível de maturidade, foi mais leve para nós a adaptação. É uma situação nova. Na minha família, não somos muito partidários das telas, mas virou realidade”, conta.

Cada filho tem seu quarto. E, em cada quarto um computador. As aulas começam às 7 horas e em alguns dias invadem a tarde. Mirko é dono de uma indústria no ramo de metalurgia e não parou de trabalhar durante a pandemia, por ser serviço essencial.

Ele acredita que, se o Porto Seguro adotar as medidas de segurança recomendadas pelo Einstein, poderia até recomeçar as aulas antes – a possibilidade de colégios privados voltarem primeiro tem sido descartada pelo governo.

Ensino público

A Escola Estadual Professor Milton da Silva Rodrigues, na Freguesia do Ó, região norte de São Paulo, teve a ajuda dos alunos para compreender as dificuldades e descobrir soluções. O diretor da escola, Osmar Carvalho, explicou que cada classe tem um representante, responsável por repassar uma espécie de relatório semanal aos professores.

“Percebemos que temos de ser mais flexíveis com prazos. Por exemplo: tem aluno que usa o celular do pai para acompanhar a aula. E só responde à noite porque é quando o pai volta do trabalho”, diz Carvalho.

Lucas Ribeiro, de 16 anos, é líder de turma do 2.º ano do ensino médio. O jovem acompanha as aulas pelo celular e reveza com os dois irmãos o notebook dos pais.

“Ele fez lista de presença com nome completo de todos e confere quem tem feito as atividades”, conta a mãe, Mariana. “No fim de semana, entra em contato com os amigos para entender as dificuldades. Depois, repassa aos professores.”

As responsabilidades de Lucas vão além da escola: precisa tomar conta dos irmãos, Davi, de 2, e Luiza, de 12 anos. Os pais trabalham no setor imobiliário e já retomaram as atividades. “Tenho medo de que a volta seja um caos. Sei que para mim o retorno deve demorar, ainda mais porque estou no grupo de risco, por ter bronquite asmática. O ensino a distância prejudicou muita gente”, diz o jovem.

A Escola Estadual Caetano de Campos, na Consolação, tem problemas similares. O diretor Tiago Pereira lembra o caso de um aluno que pediu autorização à escola para imprimir o roteiro semanal de aulas, pois ninguém em casa tinha aparelho eletrônico. “Avaliamos casos mais específicos, entendemos a necessidade e autorizamos.”

Protocolo

A retomada das aulas em São Paulo só começará em 8 de setembro se as 17 regiões do Estado estiverem na fase 3 do plano de flexibilização da quarentena por 28 dias. A volta será escalonada e, no primeiro momento, só 35% dos alunos de cada colégio poderão frequentar aulas a cada dia.

Os colégios ou redes de ensino poderão escolher quais alunos retomam as classes presenciais primeiro. Será recomendado checar a temperatura na entrada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.