Em uma sexta, 26, de fuga de ativos de risco no mercado financeiro mundial, o dólar subiu e fechou com a maior cotação em um mês, a R$ 5,4604. O aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos, que vem batendo recordes diários de infecções, fez as bolsas em Nova York caírem forte e a moeda americana subiu de forma generalizada nos emergentes, com o real novamente ficando com o pior desempenho. As mesas de câmbio também monitoraram o noticiário político doméstico e a nova troca de ameaças entre China e Estados Unidos. Na semana, o dólar acumulou valorização de 2,68%, a terceira semana seguida de ganhos.
No pior momento do dia, no final da manhã, o dólar encostou em R$ 5,50, levando o Banco Central a fazer um leilão de dólar à vista, vendendo US$ 502 milhões. Foi a primeira operação do tipo desde 1º de junho, quando o BC fez dois leilões na mesma sessão, vendendo US$ 530 milhões. Em junho, a moeda americana passou a acumular alta de 2,3%, enquanto no ano avança 36%.
“Mais do que uma aversão a risco, é um movimento de aversão a perdas, por causa da total incerteza”, afirma o sócio da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga. Ele ressalta que com o crescimento dos casos nos EUA e em outras regiões, crescem as dúvidas sobre a recuperação da economia e como vai ficar a retomada dos negócios.
Com o quadro de aversão a perdas, Madruga ressalta que o investidor que havia trazido dinheiro este mês para a Bolsa, retira os recursos, ajudando a pressionar o câmbio e tornando as oscilações mais pronunciadas. “Não é natural ter oscilação em pouco tempo de R$ 6,00 para R$ 4,80. As empresas não conseguem se planejar.” Para o sócio da Monte Bravo, o mais normal é o dólar ficar na casa dos R$ 5,00 a R$ 5,30.
Na B3, apesar dos ingressos de estrangeiros no começo do mês, os últimos dias têm sido de fuga de recursos, com saldo negativo, por exemplo, nos dias 22 e 23. Apenas neste último dia saíram R$ 840 milhões. O saldo no mês, embora menor, ainda segue positivo, em R$ 1,386 bilhão.
Para o dólar, o economista da consultoria inglesa Capital Economics, Oliver Jones, avalia que a performance recente da moeda americana tem sido determinada principalmente pela demanda por proteção, com o diferencial de taxas de crescimento dos EUA com o resto do mundo e de juros ficando em segundo plano. “Qualquer notícia boa sobre os esforços para conter a rápida disseminação do coronavírus nos EUA, ao melhorar o apetite por risco, seria um mal fator para o dólar”, ressalta.