Enquanto Flamengo e River Plate têm elencos milionários, atletas de seleção, treinadores renomados e vivem a expectativa de disputar a final da Copa Libertadores no próximo dia 23, em Lima, os xarás piauienses da dupla vivem realidade oposta e lutam para perpetuar a antiga rivalidade. Em Teresina, o clássico local conhecido como “Rivengo” anda tão em baixa que depende de um jogo amador para continuar a mexer com as duas torcidas.
No Piauí, Esporte Clube Flamengo e River Atlético Clube levam nos nomes e nos uniformes as homenagens a dois dos principais clubes do continente. Como estão sem calendário de competições oficiais neste segundo semestre, os times e as respectivas torcidas trocaram a expectativa pelos clássicos locais para transferir o apoio aos xarás mais famosos, finalistas da Libertadores.
“Onde tenha River e times de uniforme tricolor nós vamos torcer contra. Somos Flamengo, seja no Piauí ou no Rio. Vou até reunir o pessoal na minha casa para vermos a final da Libertadores”, disse o presidente da Torcida Fiel Rubro-Negra, Raimundo Brito.
Do outro lado, quem é do River rebate. “Não dá para torcer contra o River Plate, ainda mais jogando contra o rival. Une o útil ao agradável”, afirmou o presidente da torcida River Chopp, Ciro César Andrade.
Mas em vez de só torcer pelos xarás, as duas torcidas também se preocupam em não deixar a rivalidade local morrer. O River é o maior campeão estadual do Piauí e sente nos últimos anos a ausência do maior adversário. O Flamengo vive grave crise financeira, precisou vender a sede e outros imóveis para pagar dívidas e tem lutado para não terminar o Estadual como lanterna nas edições mais recentes.
A solução das torcidas para amenizar essa situação foi criar no ano passado um jogo amador, com a escalação de equipes formadas por apoiadores dos dois clubes. A sétima edição do encontro será neste sábado, no campo da Vila Bagdá, em Teresina, e com ingredientes interessantes. O retrospecto do confronto está empatado e os times vão entrar em campo ao som do hino da Liga dos Campeões, em jogo com narrador, sorteio de brindes e a arrecadação destinada a fins filantrópicos.
“Como o futebol é fraco, a torcida fica parada e sente falta de ver futebol. A gente precisa do clássico na várzea para manter viva a chama da rivalidade”, comentou o presidente da River Chopp, Ciro Andrade. “O Flamengo tem enfrentado tantos problemas que a torcida se afastou. A rivalidade tem diminuído”, explicou Raimundo Brito, da Fiel Rubro-Negra.
SOBREVIVÊNCIA – Para o jornalista e historiador Severino Filho, autor do livro “Rivengo, o clássico de século”, a situação complicada do Flamengo tem prejudicado bastante a relevância do clássico mais tradicional do Piauí. “O futebol do nosso Estado depende dentro de campo totalmente que os dois estejam bem. Isso incentiva os outros clubes e torcidas”, explicou.
A rivalidade entre River e Flamengo no Piauí se intensificou a partir da década de 1960, embora os dois clubes sejam um pouco mais antigos. O time rubro-negro foi fundado em 1937, com inspiração no xará carioca e para se contrapor ao Botafogo, outra equipe de Teresina. Já o River, ganhou o nome após a criação em 1946. Na época os fundadores foram a São Paulo comprar um jogo de uniformes e levaram camisas idênticas às da equipe argentina.
“O nome veio em dedicação ao River Plate e a ideia foi bem recebida, até porque Teresina está localizada entre dois rios”, comentou o historiador. Severino cita também que no passado, alguns jogadores do Flamengo do Rio vestiram a camisa do xará piauiense. Todos eram atacantes: Nélio, Tuta e Edilson Capetinha.