Com filas de dobrar o quarteirão, o comércio de Belo Horizonte voltou a funcionar nesta quinta-feira, 6, com o retorno, inclusive, de shopping centers. A decisão pela retomada das atividades do setor foi anunciada na terça-feira, pelo prefeito da capital, Alexandre Kalil. Ele citou o Dia dos Pais, comemorado no próximo domingo, e classificou a decisão como “um jeito de ajudar um pouco o comércio, porque o plano inicial era para abrir na segunda-feira (dia 10).”
Também durante o anúncio da reabertura, a prefeitura comunicou alteração no sistema de contabilização de leitos de unidade de terapia intensiva e de enfermaria voltados para o tratamento da covid-19. Estes números são utilizados pelo município como um dos critérios nas decisões sobre abertura e fechamento de atividades econômicas na cidade durante a pandemia. Na alteração, passou-se a contabilizar também os leitos da rede privada de saúde da cidade, e não apenas os de instituições públicas.
A reabertura do comércio em Belo Horizonte acontece na semana em que a cidade teve recorde no número de mortes registradas diariamente por covid-19. Na terça-feira, portanto no dia do anúncio da retomada, a cidade computou 53 mortes pela doença, atingindo 605 falecimentos.
A ocupação de leitos de UTI, com mais unidades acrescentadas pelo nova forma de contagem da prefeitura, é de 85,8% para vagas no setor público e de 79,4% nas vagas na soma dos públicos e privados. Nas duas semanas anteriores, a ocupação, que levava em consideração apenas os leitos do setor público, oscilava entre 92% e 89%. O índice que mede a intensidade da transmissão do vírus na cidade, que também é um critério usado nas decisões pelo retorno ou fechamento do comércio, estava em 0,97 no último dia 31. Abaixo de 1, o índice é considerado ideal, indicando que está reduzida a capacidade de transmissão do vírus entre as pessoas.
A semana atual registrou recorde no número de mortes por covid-19 também em relação ao estado de Minas Gerais. Ontem, quarta-feira, 5, foram computadas 152 mortes a mais pela doença na comparação com o dia anterior. Os dados de hoje, 6, mostram que outras 109 pessoas morreram no estado pela doença no embate com a véspera. Até hoje, conforme os dados da Secretaria de Estado de Saúde, foram registrados em Minas Gerais 142.828 casos de covid-19 em Minas, com 3.304 mortes.
Ânsia. Com o retorno do comércio, o Centro de Belo Horizonte teve praticamente um dia normal, com engarrafamentos e pontos de ônibus lotados. A abertura das lojas, conforme os critérios da prefeitura, ocorreu às 11h. Muitas já atendiam antes. A tradicional Galeria Ouvidor, por volta das 10h30, já tinha filas que dobravam as esquinas em suas duas entradas. A grande maioria das pessoas usava máscara, mas não havia respeito ao distanciamento social, pedido pelas autoridades de saúde municipais e estaduais.
A multidão aglomerada não foi suficiente para fazer com que a enfermeira Andrezza Elisiário, de 44 anos, desistisse de entrar na fila. Funcionária de um centro de atenção à saúde mental em Betim, na Grande Belo Horizonte, a profissional de saúde disse que precisava comprar material para artesanato.
Conforme Andrezza, este é um hobby para conseguir relaxar pelo trabalho estressante. A enfermeira conta que já teve contato com seis pessoas que foram contaminadas pelo novo coronavírus. Até o momento, não pegou a doença. “O artesanato é minha válvula de escape para não pirar”, justifica. Segundo a enfermeira, os materiais que usa para os trabalhos artesanais só são encontrados na Galeria Ouvidor.
Filas enormes também à espera da abertura do Shopping Cidade, no Centro da capital, um dos maiores da cidade em tráfego de pessoas. No caso dos shoppings a abertura ocorreu ao meio-dia. “Com máscara e distanciamento, não tem problema”, disse Rafael Silva Paixão, de 35 anos, proprietário de uma lanchonete, e que, por volta das 11h20, já estava na fila aguardando a abertura do shopping. Segundo o comerciante, a ida ao centro comercial era para resolver um problema com o chip de seu celular. Tanto na galeria como no shopping, funcionários verificavam na entrada a temperatura dos clientes.
O prefeito Kalil, no anúncio da reabertura, garantiu não ter sofrido pressão para o retorno do comércio. Pelo sistema adotada pelo município, o comércio funcionará três dias por semana e ficará fechado, ao menos inicialmente, em quatro. Bares e restaurantes seguem funcionando com o sistema de delivery. Praças de alimentação de shoppings também não foram autorizadas a voltar.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, fez uma análise do primeiro dia de funcionamento do comércio. “Todos estão muito ansiosos, tanto clientes como lojistas”, afirmou. O dirigente disse ainda que parte das lojas não abriu. “Ainda não sabemos se por falta de preparação para a retomada, ou se por terem encerrado as atividades”, declarou.