Chacina no Jacarezinho: “O primeiro choque foi a quantidade de sangue nas ruas", diz testemunha

por Redação RIC.com.br
com informações do EL País e da BBC
Publicado em 7 maio 2021, às 11h07.

Mesmo com uma resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspende operações na pandemia, a Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou nesta quinta-feira (6), na favela do Jacarezinho, uma operação que já se tornou a segunda maior chacina na história do estado, com cerca de 25 mortos

Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, cerca de 29 pessoas foram baleadas durante as sete horas de operação. Entre elas, estão três policiais civis e duas vítimas de bala perdida. De acordo com o EL País, testemunhas que vivenciaram a operação contam que os agentes invadiram a casa dos moradores para realizar revistas, mesmo que esse tipo de procedimento só estivesse autorizado a acontecer sob mandado judicial

“Eram muitas poças (de sangue). Relatos de violação de domicílio e de mortes neles. Muitos muros cravejados de bala, muitas portas cravejadas de bala”,

disse à BBC a defensora pública Maria Júlia Miranda. 

De acordo com a BBC, a Defensoria Pública, a Comissão de Direitos Humanos da OAB e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio foram à favela e ouviram moradores.

A Defensoria visitou também duas casas que chamaram a atenção e relatou os casos à BBC. Em uma delas, havia sangue pelo chão e pedaços de corpos. Na outra, o quarto de uma criança de oito anos estava coberto de sangue. A família contou à Defensoria que testemunhou a execução de um homem ali. Ele entrou na casa já ferido e foi morto no quarto da menina, que, inclusive, viu a cena, segundo contou a família à defensora. A BBC afirma que também há depoimentos de outros moradores que descrevem corpos sendo retirados de casas.

Em entrevista coletiva, a Polícia Civil local confirmou o número de mortes e afirmou que seis pessoas foram presas, sendo que três delas tinham mandado de prisão expedido. Além disso, a Operação Exceptis também apreendeu 16 pistolas, seis fuzis, uma submetralhadora, 12 granadas e uma escopeta calibre 12.

Importante base do Comando Vermelho, principal facção do Rio de Janeiro, a favela do Jacarezinho foi alvo de investigações sobre o aliciamento de crianças e adolescentes para o crime. O delegado Rodrigo Oliveira negou os abusos relatados por moradores e que os policiais agiram em legítima defesa.

“A única execução que houve foi a do policial, infelizmente. As outras mortes que aconteceram foram de traficantes que atentaram contra a vida de policiais e foram neutralizados. As investigações continuam, outras operações virão, e a gente busca não permitir que essas crianças sejam aliciadas pelo tráfico”, ele explicou. 

Moradores assistiram a ação policial e tentavam se proteger. (Foto: REUTERS/RICARDO MORAES)

Em nota, o governador Cláudio Castro (PSC) lamentou as mortes, mas insistiu na alegação de que houve planejamento na ação.

“O Governo do Estado do Rio de Janeiro lamenta as vidas perdidas na operação da Polícia Civil, nesta quinta-feira, no Jacarezinho. A ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído. Para garantir a transparência e a lisura da operação, todos os locais de confrontos e mortes foram periciados.”, diz nota

Nas redes sociais, o clima foi de revolta. Muitos ativistas demonstraram indignação com a repressão policial.

“Isso não é “Operação.” É Ação de Extermínio da polícia que matou 25 pessoas. Uma ação oficial. Isso não é contra o “tráfico.” É contra a própria comunidade.”, afirmou o ativista Ronilso Pacheco.

A operação foi anunciada aos moradores pela imprensa local, o LabJaca. Em alerta, os organizadores pediam para que os moradores ficassem em casa.

Em nota oficial, as organizações, os coletivos e as ONG’s que atuam no Jacarezinho se manifestaram sobre a chacina.

“Diante dessa realidade de extermínio, seguimos com o mesmo questionamento: quais vidas importam?”, diz a nota

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