Cautela em relação ao avanço de casos de covid-19 em alguns países, em especial nos EUA, deixa o investidor da B3 propenso a alguma realização de lucros, após os ganhos recentes. Apesar disso, há algumas perspectivas otimistas para a economia interna e externa, que podem ser equilibradas com esse cuidado externo. Com uma agenda mais fraca de indicadores, o sobe-e-desce na B3 não pode ser descartado, ainda que por ora o sinal seja de queda. Por ser o último dia da semana, o investidor tende a optar por se resguardar.
“Como teremos fim de semana, será que alguém vai querer correr risco?”, questiona Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença. “O mercado segue indefinido”, completa. O recuo das bolsas em Nova York ainda ecoa um teste de estresse do setor bancário americano, com limitação do pagamento de dividendos e a suspensão da recompra de ações no terceiro trimestre do ano.
O Fed alertou ontem que os bancos podem perder até US$ 700 bilhões se o pior cenário se concretizar, mas disse que as instituições têm força para suportar os impactos da crise. A medida reforça a preocupação de analistas e investidores quanto a uma segunda onda de covid-19 nos EUA, onde os casos estão aumentando.
Já as bolsas europeias sobem, refletindo a afirmação da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, de que “provavelmente superamos a pior fase” da crise de coronavírus, mas ressaltou que o choque atual é mais grave do que a crise financeira de 2008 e que há um sentimento de cautela em relação à possibilidade de uma segunda onda de infecções pela covid-19.
Vindo de uma semana considerada positiva e “inédita” por muitos após a aprovação do marco de saneamento básico, cujo avanço é visto como chance para que o País galgue rumo ao avanço das reformas, uma possível realização não seria de todo ruim. “Foi um raro momento. Foi uma vitória importante de articulação, e isso pode fazer com que o índice ande mais, mirando de novo os 100 mil pontos, mas não hoje”, diz Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Ideias de Investimentos.
Somado a isso, a postura de se resguardar e o tom mais moderado adotado durante “live” ontem pelo presidente Jair Bolsonaro podem ser um sinal considerável no sentindo de ampliar o debate acerca da agenda reformista. “Fica a esperança em relação a isso, é um ventinho, mas claro que fica a cautela”, pondera Guimarães.
“Pode dar uma tranquilizada nos mercados, uma preocupação a menos”, diz um fonte, contudo, ponderando que a política segue no radar. Hoje, por exemplo, a revista Veja notícia que o advogado Frederick Wassef afirmou ofereceu abrigo a Fabrício Queiroz em três imóveis seus, entre eles o de Atibaia (SP), onde o ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi preso na semana passada. Segundo ele, a medida seria uma tentativa de “proteger” a família Bolsonaro.
No âmbito corporativo, nem mesmo a desistência de aumento de 4,6% para 7,6% na alíquota da Cofins cobrada de instituições financeiras, exceto cooperativas de crédito e bancos controlados por elas, anima. As ações do setor financeiro caem na Bolsa, com perda máxima de 2%. Já o destaque de alta (5,87%) são as ações da IRB Brasil Re. A empresa anunciou nesta manhã a conclusão da investigação interna que identificou supostas fraudes praticadas pela antiga diretoria.