Abraço de alívio: Mãe reencontra filha que estava na Ucrânia e relembra momentos “Simplesmente aterrorizante”

Publicado em 12 mar 2022, às 11h53. Atualizado às 12h31.

O abraço entre Natiely e a filha Thamany, no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, é carregado de alívio, emoção e paz. A jovem Thamany e o marido André embarcaram em fevereiro deste ano após serem transferidos para trabalhar na sede da empresa na Ucrânia. Entretanto, três dias após chegarem no país do leste Europeu, o país começou a ser atacado pela Rússia.

“A gente comprou a passagem em agosto. Nós já estávamos conversando com os representantes da empresa sobre o conflito entre os países, porém, eles nos garantiram que eram apenas rumores e não aconteceria uma guerra”,

contou Thamany.

A jovem jornalista, ex-funcionária do Grupo RIC, carregava na mala o sonho de uma experiência profissional na Europa, mas também o receio de que algo ruim pudesse acontecer na Ucrânia. Após passarem por Lisboa e Londres, o casal curitibano chegou em Lviv, na Ucrânia, no dia 21 de fevereiro, três dias antes do início dos ataques.

Enquanto o casal tentava de qualquer forma retornar ao Brasil, os familiares sofriam em solo brasileiro com poucas informações e com notícias aterrorizantes nos veículos de comunicação, “Sensação de incapacidade, pois não tínhamos como ajudá-los. Foi aterrorizante”, contou a mãe de Thamany, Natiely Borges.

Desespero: início da guerra

Era madrugada do dia 24 de fevereiro. Natiely e o marido, Cleverson, estavam em casa, na capital paranaense, assistindo um filme. Por volta da 1h, a mulher pegou o celular e uma notificação mudou os próximos dias da família Borges. A notícia do início dos ataques da Rússia contra a Ucrânia gerou pânico no casal que tinha a filha e o genro no país europeu.

“Eu peguei o celular e já vi as notícias, a invasão havia começado há 40 minutos, senti um gelo. Não sabia o que fazer. Fiquei na dúvida se ligava para a Thamany, pois sabia que eles estavam dormindo. Pensei em ligar para a Embaixada Brasileira em Kiev e para o Itamaraty. Resolvi ligar no número de emergência do Itamaraty, mas ninguém atendeu. Então liguei para a Thamany e os acordei. Eles estavam dormindo e em Lviv ainda não havia soado a sirene de ataque. Eu estava em pânico pois não sabia se a cidade dela seria atacada”,

relembrou a mãe emocionada.

Os próximos dias foram marcados pela aflição e pelo desespero. Aqui no Brasil, Nati e Cleverson recebiam poucas informações do casal e lá na Ucrânia, Thamany e André tentavam escapar da guerra. Em contato com a chefe do trabalho, o jovem casal conseguiu ser levado para uma vila, entretanto, no meio da noite foram deixados em uma estrada e precisaram caminhar a pé até a fronteira.

O casal de brasileiros percorreu cerca de 10 quilômetros durante a noite, em uma temperatura próximo de 0°C. Na região da fronteira com a Polônia, Thamany viveu o pior momento e chegou a pensar que não conseguiria retornar ao Brasil.

Eu vi a morte. Ficamos 12 horas para atravessar o primeiro portão, depois mais 16 na segunda barreira. Tinha crianças sendo pisoteadas, pessoas tentando pular o muro. Era um mar de gente”,

contou Thamany.
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Casal de brasileiros ficou cerca de 22 horas na fila para atravessar fronteira (Foto: Thamany)

Um dos momentos mais delicados da travessia, foi quando Thamany tentou ajudar uma criança que havia caído. A jovem brasileira se abaixou, mas logo a aglomeração quase causou uma tragédia.

“Ela foi ajudar uma criança a não ser pisoteada, pois em alguns momentos aconteciam revoltas e as pessoas passavam por cima das outras. Então ela foi ajudar a criança e acabou sendo derrubada, as pessoas começaram a passar por cima dela, pisavam nela. A Thamany contou que não conseguia respirar e tentou gritar, sentiu que ia morrer. O André havia sido empurrado para longe na multidão. Foi quando um homem do Quênia que eles haviam conhecido no começo da fila a viu e a salvou”,

contou com emoção a mãe da jovem.

Nati ainda revelou que a filha e o genro passaram por outros momentos desesperadores até chegarem na Polônia. “Passaram frio, fome, tiveram alguns ferimentos leves, sofreram desidratação. A Thamy chegou a ter início de infecção urinária. A desidratação foi tão forte que partiu os lábios, afetou a pele e os cabelos. André feriu todos os dedos das mãos, ele e a Thamany passaram mais de uma hora ajudando mulheres com crianças a pularem uma cerca para se salvarem da multidão”, declarou ela emocionada, ao lembrar deles como heróis.

Volta para casa

Superada a fronteira, Thamany e André contaram com a ajuda de dois “anjos”, segundo eles mesmos relataram. Os missionários Luciano Fonseca e Lucas Almeida, viajaram mais de três horas para encontrar os brasileiros na fronteira. Além disso, ofereceram abrigo e alimentação para eles em Auschwitz.

André e Thamany em Auschwitz (Foto: Arquivo Pessoal)

Já com mais contato com a família e com um pequeno alívio em ter deixado a Ucrânia, o casal foi convidado a retornar ao Brasil em um voo no cargueiro da Força Aérea Brasileira. O voo chegou ao Brasil na última quinta-feira (10), com 42 brasileiros, 20 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano.

Casal no início da volta para casa (Foto: Arquivo Pessoal)

Após escalas em Lisboa, Cabo Verde, Recife e Brasília, Thamany e André chegaram a Curitiba já no final da noite de quinta-feira (10). No reencontro com a família muita emoção e lágrimas, porém, desta vez de alegria.

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Familiares e amigos com o casal no aeroporto Afonso Pena (Foto: Arquivo Pessoal)

Amigos e familiares de Thamany e André estiveram no Aeroporto Afonso Pena para o reencontro. Veja fotos: