Casal de pererecas-rústicas chega em Foz do Iguaçu; saiba mais

Publicado em 23 nov 2022, às 13h00. Atualizado às 13h43.

Mais um casal de pererecas-rústicas (Pithecopus rusticus) chega nesta quarta-feira (23) ao Parque das Aves, na cidade de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná. A operação visa dar continuidade ao programa de conservação do animal, considerado em perigo de extinção. As pererecas-rústicas são encontradas exclusivamente em uma pequena área de campos de altitude no bioma Mata Atlântica.

“Atualmente, a única população conhecida de pererecas-rústicas está em uma área altamente impactada pelo homem, próxima de uma estrada com presença de gado e plantações. Por conta das ameaças e por ter poucos indivíduos no ambiente natural, o plano é manter uma população de segurança, facilitando a reprodução dos animais em um espaço seguro para, futuramente, enviar seus descendentes ao local de origem, reforçando a população em declínio ou introduzindo um novo grupo de indivíduos no ambiente natural”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.

Por enquanto os visitantes do Parque das Aves ainda não terão acesso à sala das pererecas. Inicialmente, os animais são mantidos na área interna da instituição, sob os cuidados da equipe técnica.

Na semana passada, uma equipe do Parque das Aves foi até Água Doce, Santa Catarina, em uma expedição em conjunto com o ICMBio para conhecer melhor os hábitos da espécie em seu local de ocorrência natural. Todas as atividades, incluindo a expedição e o recebimento do novo casal, estão acontecendo graças ao apoio financeiro recebido da Amphibian Ark.

Espécie foi descoberta pela ciência há pouco tempo

As pesquisas sobre a espécie são realizadas por uma equipe de pesquisadores e estudantes da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), em parceria com outras universidades do Brasil. 

A professora Elaine Lucas, da UFSM, coordena as atividades de pesquisa em campo que acontecem desde 2009, quando a população das pererecas foi descoberta. No ano 2014, o animal foi formalmente descrito pela ciência como uma nova espécie, que já está em perigo de extinção, segundo a Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 148, de 07/06/2022, que atualizou a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção.

Em agosto de 2020, uma oficina foi realizada para avaliar as necessidades de conservação das espécies de anfíbios ameaçados do Brasil, entre elas a perereca-rústica. 

Especialistas identificaram que a reprodução em um espaço seguro, fora do ambiente natural, seria importante para conservar a espécie.  “Os anfíbios, como grupo, são considerados os vertebrados mais ameaçados do mundo, mas as ações de conservação para protegê-los ainda são muito escassas”. comenta Cybele Lisboa, bióloga da Reserva Paulista. “Por isso, estamos muito felizes que o Parque das Aves respondeu a nosso convite e se juntou aos esforços para conservar os anfíbios no Brasil.” 

De acordo com as diretrizes estabelecidas pelo projeto, em 2022, a professora Elaine Lucas destinou um casal desses animais ao Parque das Aves, mediante autorização emitida pelos órgãos responsáveis.

Cuidados especiais

No Parque das Aves, a equipe técnica que está cuidando dos animais oferece alimentação duas vezes por semana. “Como são animais insetívoros, oferecemos grilos, baratas, tenébrios e outros pequenos invertebrados, oriundos de nosso biotério. Estes insetos são suplementados com vitaminas e minerais, garantindo uma alimentação completa e balanceada”, explica o zootecnista Henrique Tavares, chefe da Divisão de Nutrição Animal do Parque das Aves.

Por ser uma espécie de hábitos noturnos, uma câmera infravermelha foi instalada especialmente para que a equipe possa realizar um monitoramento minucioso do comportamento do casal todos os dias. 

Além de oferecer nutrição adequada, a equipe técnica simulou as condições de temperatura, umidade e fotoperíodo semelhantes às existentes em Água Doce, que é o ambiente natural das pererecas. Para isso, além da iluminação natural, utilizam uma lâmpada emissora de raios do tipo ultravioleta B, que favorece as funções fisiológicas das pererecas.

Apesar de não ficarem em ambiente aquático o tempo todo, já que preferem se esconder na vegetação, as pererecas são muito sensíveis à qualidade da água, que é um outro ponto de atenção dos técnicos. Por isso, eles monitoram constantemente parâmetros como o pH, conferindo se a água está ácida ou básica na proporção correta, além de analisar a presença de nitrato, nitrito e amônia, que poderiam ter um efeito negativo nas pererecas. Assim, após verificar essas alterações, os técnicos ajustam a proporção de troca de água dos animais, mantendo cada parâmetro monitorado dentro das condições ideais de bem-estar para essa espécie.

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